terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pierre Lèvy palestrou sobre inteligência coletiva

Estudantes, profissionais e pesquisadores lotaram, ontem pela manhã, o auditório do Cidec-Sul na Universidade Federal do Rio Grande (Furg) para assistir o renomado professor e pesquisador Pierre Lèvy. A inteligência coletiva foi o tema abordado durante a palestra de abertura da 2ª Semana da Ciência da Informação, que ocorre até a próxima sexta-feira.
Pierre Lèvy nasceu na Tunísia. Autor de diversos livros como “O que é o virtual” e “Cibercultura”, ele é doutor em Sociologia e Ciência da Informação e da Comunicação na Universidade de Sorbonne, na França. Atualmente, Lèvy é professor na Universidade de Ottawa, no Canadá.

Para explicar sua visão sobre o futuro, Lèvy apresentou primeiramente a evolução da comunicação, com a descoberta da escrita, a invenção do alfabeto e da imprensa. Para o filósofo, este é só o início da evolução da mídia digital e é difícil prever as novas formas culturais que surgirão com ela.

“Estamos apenas observando o início da evolução, mas logo teremos acesso sem fio de alta velocidade em todos os lugares. O Brasil é um país onde a média de aumento da conectividade à internet é muito alta. A interconexão generalizada está em um processo de aceleração cada vez mais rápido. Hoje os especialistas acreditam que 60% dos africanos têm acesso à internet pelo telefone. Você pode imaginar isso daqui a 10 anos?”, questionou.

Para Lèvy as diferenças nas línguas naturais são hoje uma grande barreira no desenvolvimento da inteligência coletiva. “Mesmo quando falamos a mesma língua é difícil compreender uns aos outros”, acrescentou. O pesquisador destacou que o momento atual é da digitalização dos dados. “Não apenas os dados antigos que estavam na forma impressa, mas também o fluxo de dados digitais que são criados todos os dias”, esclareceu. A questão levantada por ele remete à forma como a sociedade irá organizar esse fluxo imenso de dados existentes na web.

Segundo Lèvy, no futuro haverá um novo ambiente para comunicação e colaboração, uma nova camada de direcionamento de dados. Seria um sistema coordenado que receberia um direcionamento de conceitos e de ideias. Esse ambiente ele chama de rede de metadados.

Para o pesquisador, as várias línguas naturais não evoluíram para serem manipuladas automaticamente através de um sistema digital. Por isso, a ideia de Lèvy é a criação de uma língua universal específica para ser manipulada de forma automática na internet, que seria usada principalmente para a organização de dados. “Seria uma língua de metadados ou metalíngua. Seria diferente do Esperanto, por exemplo. Eu penso que seria um sistema coordenado do espaço não físico, mas semântico”, explicou.

O professor afirmou que na sua visão de um futuro próximo ocorrerá algo como a grande evolução científica do século 17, mas não a respeito da natureza material e sim sobre a cultura das ciências sociais. “Acho que isso vai nos auxiliar a ficarmos conscientes sobre nossa inteligência coletiva, pois seremos capazes de observá-la através do espelho da mídia digital”, previu.

No momento direcionado às perguntas, Lèvy respondeu vários questionamentos da plateia. Sobre o grande número de informações no espaço virtual, Lèvy disse acreditar que nunca há informação excessiva. “É como se disséssemos que há muitos livros em uma biblioteca. É necessário que os utilizemos tendo o maior número possível de informações”, salientou.

Mas o pesquisador ponderou a forma de utilização desses dados. Para ele, o problema é o meio de filtrar e catalogar essas informações na web. “É nesse aspecto que devem ser aplicados os esforços. Sem esquecer que os utilizadores têm também uma responsabilidade, eles têm que ser capazes de escolher as fontes pertinentes”, disse.

O filósofo fez ainda um alerta para a entrada da sociedade em uma economia baseada na gestão do conhecimento, o que supõe que os indivíduos sejam capazes, responsáveis e criativos nas escolhas e com uma preparação das instituições de ensino.

Lèvy também estimulou a participação em redes sociais como o Facebook e o Orkut, mas destacou o papel do Twitter para a comunicação atual. Conforme Lèvy, a utilização do Twitter é um processo de filtragem colaborativa da informação que está nas mãos das pessoas. Ele avalia que o recebimento e o envio de muitas informações é um processo positivo, mas o importante é sintetizar e organizar esses dados.

“Eu convido-os a visitar esse imenso mercado de comunicação que está à disposição, uma imensa memória de todos os lugares, disciplinas, pontos de vista. A possibilidade de acessar essas informações é considerada como um ganho”, finalizou.





Lorena Garibaldi

Nenhum comentário: