sábado, 10 de novembro de 2012

Desigualdade social a partir da visão de Karl Marx



A desigualdade social provocada pela concentração de renda e o contraste das grandes cidades brasileiras. Esses são assuntos abordados na aula de sociologia do Projeto Educação desta sexta-feira (9).

De um lado a vida confortável nos apartamentos luxuosos dos bairros nobres da cidade. De outro, a pobreza, a vida difícil de quem precisa sobreviver na miséria, muitas vezes, sem condições básicas de higiene, sem acesso à educação, à cultura, ao lazer. É a desigualdade cada vez mais presente na sociedade.
"Quando nos deparamos com uma realidade como essa, quem tem uma visão humanística sente-se muito chocado, sensibilizado, porque é algo que não se admite na consciência humanística a condição de vida humana diante de tanto progresso, de tanta tecnologia, de tanto acesso hoje a bens e serviços que todos podem ter e nos deparamos com uma desigualdade tão visível", comenta o professor de sociologia Fábio Medeiros.
O primeiro intelectual a falar sobre a desigualdade entre as classes foi o alemão Karl Marx, criador da doutrina comunista moderna. "A visão de Karl Marx, que era muito mais economista do que mesmo sociólogo, deu uma contribuição muito grande ao estudo sociológico. A desigualdade social está atrelada necessariamente ao modo de produção capitalista que não é justo, não é igual. Possibilita um processo de desigualdade muito intenso. Então o modo de produção que visa o lucro, através do acúmulo de capital e da exploração de trabalho, na visão marxiana é uma visão que possibilita a gente a entender porque essa desigualdade se estabelece e aqui a gente visualiza isso", explica Medeiros.
Para Marx, o indivíduo pode fazer suas escolhas, mas as condições sociais são influenciadas pelas condições econômicas. "Há elementos que o indivíduo pode fazer suas escolhas, mas as determinações sociais nesse caso são muito influenciadas pelas determinações econômicas na perspectiva marxiana. Praticamente a economia, então a concentração de renda, a gente poderia dizer na mão de poucos, ou daqueles que detêm os meios e os modos de produção praticamente dizem e estabelecem o processo de desigualdade social, o que é gritante, lamentável e chocante", diz o professor.
Será que existem caminhos que levam para o fim da desigualdade social? "O estado pode minimizar essa desigualdade social através das políticas públicas. Favorecer uma melhor empregabilidade, propiciar políticas de inclusão social, através da educação, não só formal, mas profissionalizante, de cultura e lazer, acesso à saúde também que é fundamental e às condições de moradia dignas. Para isso o estado tem que fazer o seu papel através da própria função que lhe é cabível, daquilo que o cidadão paga e ele tem que retribuir pelos impostos que ele recebe com a arrecadação. As classes sociais, em especial as classes mais altas, elas têm que também se sensibilizarem para se permitir essa compreensão e esse papel de ação estatal", conclui Fábio Medeiros.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Novos movimentos sociais



Os “novos movimentos sociais” e as novas abordagens marxistas

Seguindo as tradições clássicas da sociologia marxista, Claus Offe desenvolve estudos referentes à crise da sociedade capitalista e do trabalho. Esse autor alemão, assumidamente marxista, incorpora novos elementos — como, por exemplo, aspectos socioculturais — às suas análises sobre a conjuntura sociopolítica no capitalismo avançado. Pelo fato de apresentar uma nova visão às tradicionais abordagens marxistas, Offe é considerado um autor neomarxista ou pós-marxista. Ele avança em alguns pontos deixados de lado pela Escola de Frankfurt, principalmente no que concerne à teoria crítica de Habermas (GOHN, 2004).
Elegendo a Alemanha — seu país de origem — como local privilegiado para seus trabalhos, Claus Offe desenvolveu estudos que priorizavam o debate sobre a decadência do Welfare State e o desen- volvimento da crise capitalista, além das incertezas dos partidos políticos ocidentais e autoritários. Refletiu também sobre a transição que assolava a esquerda européia, assim como sobre os problemas estruturais e as perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho. Em cada uma dessas múltiplas área s de análise, tentava incorporar fatores dialéticos, materiais e simból icos. A observação de Offe parece bastante providencial:

Um novo subjetivismo sociológico, evidenciado em
uma série de abordagens interpretativas que represen-
tam mais que um mero modismo, pesquisando o co-
tidiano, analisando a vida e o espaço vital, rompe evi-
dentemente com a concepção de que as experiências
feitas na esfera do trabalho e nas condições aí predo-
minantes possuiriam um poder de alguma forma privi-
legiado na determinação da consciência e da ação so-
ciais (OFFE, 1989, p. 17).

Caracterizando a transição capitalista como desorganizada e conflituosa, Offe (1989) demonstra, ancorado em Habermas, que a situação do trabalhador nesse contexto é mais variável e dependente das políticas estatais e de trabalho no campo social, e menos das arti- manhas empresariais e da automatização e racionalização da produção que sacrificam aquele que vive do trabalho.
Parte de sua abordagem sobre as esferas do trabalho mostra que ele normalmente é constituído por forças externas ao próprio trabalhador, o que pode gerar dúvidas quanto à eficiência das análises macrosociológicas clássicas referentes às estruturas de formação das
classes sociais (OFFE, 1989). O autor ainda argumenta que esse tipo de pesquisa freqüentemente gera limitação dos modelos de sociedade “centrados no trabalho”, que são sublinhadas genericamente nas análises que evidenciam apenas o aspecto socioeconômico. Normal- mente, comenta Offe (1989), as variáveis que incidem sobre esse mo- delo de estudo são inapropriadas para uma assimilação completa das sociedades industriais do Ocidente.
Existem algumas formas de conflito e ações coletivas nas sociedades industriais que ultrapassam os limites estreitos das abordagens tradicionais que destacam apenas os aspectos econômicos e estruturais como fim último. O autor alerta que existem situações e
formas de conflitos sociais e políticos e que as ações coletivas ultrapassam as percepções estabelecidas por algumas teorias sobre o trabalho e o capital. Offe (1989) deixa claro que essas formas peculiares de conflito ocorrem normalmente quando existe uma mescla de frentes de conflito referenciados pelo trabalho com conflitos não referenciados pelo trabalho.
Observando os cenários atuais de publicação e pesquisa nas ciências sociais, Offe (1989) ob serva que parte considerável dos trabalhos centrados nos debates sobre os modelos de ação coletiva no capitalismo industrial e sobre a atividade remunerada nesse contexto
assenta-se em bases intelectuais conservadoras.
Segundo o autor alemão, cientistas sociais “filiados” ao materialismo histórico ou à teoria crítica mostram, de modo incisivo, que os trabalhos clássicos da Escola de Frankfurt abandonaram premeditadamente as análises centradas nas estruturas, nos conflitos e nas perspectivas de desenvolvimento do trabalho social, para dedicarem-se a um “espaço vital” a ser protegidos de usurpações econômicas e políticas (OFFE, 1989).
Todavia, continua Offe (1989), pesar das abordagens sinalizarem progressos efetivos, é necessário, por outro lado, considerar os problemas resultantes das conjunturas políticas e econômicas como objetos da pesquisa sociológica. Ainda é necessária, para o autor, uma justificativa intelectual sobre o deslocamento do ângulo de interesse da pesquisa sobre as ações coletivas.
Em concomitância com esses diferentes modelos teóricos de análises, aparecem os denominados “novos movimentos sociais”, que utilizam diferentes estratégias de ação coletiva. Parte considerável dos militantes é constituída por pessoas com nível cultural elevado, bem informadas e que não possuem histórico de militância em outros movimentos políticos, mas que lutam por objetivos comuns. Assim sendo, as novas demandas sociais  e ações coletivas não se restringem apenas aos ativistas; elas se fragmentaram pela sociedade como um todo.
Não obstante, Offe (1989) revela que o comportamento dos novos ativistas sociais pode ser classificado como extra-institucionais, uma vez que não atuam em nome de uma doutrina política definida como revolucionária. O princípio motivador da criação dos novos movimentos sociais surgiu a partir de problemas ideológicos encontrados na vida cotidiana e da construção de uma identidade coletiva desses novos atores sociais, que buscavam a complementação dos seus direitos sociais e democráticos (GOHN, 2004). Por isso mesmo, completa Offe (1989), reivindicavam junto às elites políticas dirigentes questões que são particulares e de interesse restrito àq uele determinado tipo de movimento.
Conseguindo perceber diferenças ideológicas e estruturais entre os tipos de ação coletiva, o autor dividiu os movimentos em dois paradigmas distintos, que expressariam a concepção política de cada um deles. A divisão obedeceria ao seguinte critério: o tradicional, que se iniciou após a Segunda Grande Guerra, e o recente, surgido a partir da década de 1970 (GOHN, 2004).
O que caracterizava o primeiro momento, representado pelo Welfare State, eram as políticas de promoção da seguridade social, cabendo aos atores sociais envolvidos no processo atuarem como grupos de interesse econômico. Essa atuação poderia ser pensada de duas maneiras: internamente, nas organizações, associações representativas ou, externamente, em intermediações corporativistas de interesses grupais e na competição eleitoral entre partidos políticos (GOHN, 2004).
Por outra parte, o novo modelo  de ação coletiva, apresentado nos anos de 1970, é constituído de uma miríade de instituições que buscavam conquistas particulares, voltadas para suas áreas de interesse. O conjunto das diferentes formas de ação coletiva recebeu o nome genérico de novos movimentos sociais. Entre eles, pode-se lembrar de alguns, tais como: movimento de estudantes, movimento de mulheres, de homossexuais, pela liberação sexual, movimento verde, de minorias, pela paz, entre tantos (GOHN, 2004). Como dito anteriormente, os novos movimentos sociais se constituíram em espaços políticos não-institucionalizados, que transbordam o Estado de Bem-Estar Social, reinventando uma nova forma de atuação.

Em síntese, o argumento central de Offe mostra que os novos movimentos sociais e seus empreendimentos coletivos surgem como respostas estruturadas dentro de uma recente ordem. Seus desejos incontidos de expressão procuram reconhecimento com interlocutores responsáveis e credenciados a atuarem na esfera pública e privada em nome daqueles que representam. Compartilhando a mesma idéia com Richard Sennett (2006), Offe mostra que os novos movimentos sociais funcionam como críticos audazes do processo de modernização forçada em pauta na cultura do novo capitalismo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Aculturação


Aculturação

A aculturação  refere-se ao encontro de duas culturas diferentes e, segundo afirmações mais tradicionais, a sobreposição de uma cultura sobre a outra. Historicamente, a aculturação moderna tornou-se evidente a partir da colonização nas Américas, África e Oceania.
Antes do período das grandes navegações mercantilistas e da colonização dessas regiões por nações europeias , a própria Europa sofreu aculturação, por exemplo, no período em que parte de seu continente esteve nas mãos dos povos árabes.
No conceito geral, define-se a aculturação como um processo de imposição cultural que, no Brasil colonial, ocorreu pela catequisação dos índios, negros escravos e por meio de  referências “civilizatórias” trazidas por portugueses, franceses e ingleses.
Nos tempos atuais, a aculturação é percebida como resultado de um processo de intercâmbio cultura em que duas culturas absorvem mutuamente suas características e costumes gerando uma nova referência. Essa nova referência ou nova cultura apresenta traços da cultura inicial e da cultura absorvida.
A cultura brasileira é formada por traços portugueses, africanos e indígenas; formação ocorrida no decorrer de nossa história pela colonização e pelo processo de imigração. A globalização  e a interatividade das mídias permitem  um processo de aculturação e nivelamento das culturas pela proximidade das sociedades, das trocas e da rapidez dos veículos de comunicação que distribuem diversas referências, comportamentos e signos culturais em diferentes países.
Acredita-se que a aculturação, sendo um processo moderno de expansão, não consegue destruir por completo a identidade social e local de um povo. Hoje, a aculturação é considerada proveniente de um processo não violento , mas proveniente de uma necessidade de informação e busca de aspectos culturais por parte de vários povos.
Trata-se de um processo de aquisição que ocorre por meio de vários grupos de culturas diversas, permitindo que indivíduos de uma cultura aprendam o comportamento o as tradições de indivíduos de outra cultura.
É errado pensar que uma cultura desapareça por completo após sofrer  influências de outra cultura, a cultura morre junto com o seu povo e, muitas vezes, se fortalece quando mescla sua cultura com a de outros povos.
Devemos considerar que, mesmo nos tempos feudais e mercantis, nenhum povo conseguia viver constantemente isolado e que a cultura é um processo dinâmico em constante formação e expansão.
A cultura não é estática ou mórbida, seja por fatores históricos, humanos e até mesmo bélico, ela é capaz de perder , reaver ou absorver novas referências durante o processo de consolidação ou reorganização de uma sociedade. A aculturação não significa a morte dos signos e comportamentos culturais de um povo, mas um processo proveniente de causas impostas ou antropologicamente naturais.

Contracultura


Contracultura: o exemplo dos hippies

Hippies
«No final da década de 1960 surgiu uma extensa subcultura nos EUA composta de jovens motivados por uma sociedade que julgavam muito materialista e tecnológica. Esse grupo incluía basicamente radicias políticos e “hippies” que tinham “abandonado” as instituições sociais dominantes. Esses jovens, homens e mulheres, rejeitavam a pressão para se acumular cada vez mais carros, casas cada vez maiores e um conjunto sem fim de bens materiais. Expressavam, em contrapartida, o desejo de viver em uma cultura baseada em valores mais humanos, dividindo amor e vivendo em harmonia com a natureza. Politicamente, essa subcultura se opôs ao envolvimento dos EUA na guerra do Vietname e pregou a resistência ao alistamento militar obrigatório.
Quando uma subcultura se opõe de maneira clara e deliberada contra certos aspectos da cultura maior, ela é chamada de contracultura. As contraculturas, em geral, surgem entre os jovens, que fizeram até ao momento o menor investimento na cultura existente. Na maioria dos casos, um jovem de 20 anos pode se ajustar a novos padrões culturais mais facilmente do que alguém que já viveu 60 anos seguindo os padrões da cultura dominante.»

Introdução 
Surgida nos Estados Unidos na década de 1960, a contracultura pode ser entendida como um movimento de contestação de caráter social e cultural. Nasceu e ganhou força, principalmente entre os jovens desta década, seguindo pelas décadas posteriores até os dias atuais. 

De um modo geral, podemos citar como características principais deste movimento, nas décadas de 1960 e 1970: 

- valorização da natureza;
- vida comunitária;
- luta pela paz (contra as guerras, conflitos e qualquer tipo de repressão);
- vegetarianismo: busca de uma alimentação natural;
- respeito às minorias raciais e culturais;
- experiência com drogas psicodélicas,
- liberdade nos relacionamentos sexuais e amorosos,
- anticonsumismo
- aproximação das práticas religiosas orientais, principalmente do budismo;
- crítica aos meios de comunicação de massa como, por exemplo, a televisão;
- discordância com os princípios do capitalismo e economia de mercado

Os precursores da revolução contracultural foram os chamados beatniks, cuja característica mais importante foi o inconformismo com a realidade do começo da década de 1960. Os líderes do movimento beatnik, que serviu de base para o movimento hippie, foram Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs.

Na segunda metade dos anos 60, Ken Kesey, Alan Watts, Timothy Leary e Norman Brown criaram a teoria e práxis contracultural, ganhando destaque e transformando-se nas lideranças do movimento.

Com relação ao mundo musical, podemos citar a cantora Janis Joplin como o símbolo deste movimento na década de 1960. As letras de suas canções e seu estilo fugiam do convencional, criticando, muitas vezes, o padrão musical estabelecido pela cultura de massa. Os músicos Jim Morrison e Jimi Rendrix também se encaixam neste contexto cultural.

Atualmente a contracultura ainda vive, porém esta preservada em pequenos grupos sociais e artísticos que contestam alguns parâmetros estabelecidos pelo mercado cultural, governos e movimentos tradicionalistas.
 
CONTRACULTURA
Contracultura

A contracultura é um movimento que tem seu auge na década de 60, quando teve lugar um estilo de mobilização e contestação sociais e com ele novas meios de comunicação em massa. Jovens inovando estilos, voltando-se mais para o anti-social aos olhos das famílias mais conservadoras, com um espírito mais libertário, resumindo como uma cultura alternativa ou cultura marginal, focada principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano. Surgiu então a contracultura que pode ser definida como um ideário alternador que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental. Justamente por causa disso, são pessoas que costumam se excluir socialmente e alguns se negam a se adaptarem as visões aceitas pelo mundo. Com o vultoso crescimento dos meios de comunicação, a difusão de normas, valores, gostos e padrões de comportamento se libertavam das amarras tradicionais e locais como a religiosa e a familiar, ganhando uma dimensão mais universal e aproximando a juventude de todo o globo, de uma maior integração cultural e humana. A contracultura desenvolveu-se na América Latina, Europa e principalmente nos EUA onde as pessoas buscavam valores novos. Na década de 1950 surgiu nos Estados Unidos um dos primeiros movimentos da contra cultura: a Beat Generation (Geração Beat). Os Beatniks eram jovens intelectuais que contestavam o consumismo e o otimismo do pós-guerra americano, o anticomunismo generalizado e a falta de pensamento crítico.
Na década de 1960 o mundo conheceu o principal e mais influente movimento de contra cultura já existente, o movimento Hippie. Os hippies se opunham radicalmente aos valores culturais considerados importantes na sociedade: o trabalho, o patriotismo e nacionalismo, a ascensão social e até mesmo a "estética padrão". O principal marco histórico da cultura "hippie" foi o "Woodstock," um grande festival ocorrido no estado de Nova Iorque em 1969, que contou com a participação de artistas de diversos estilos musicais, como o folk, o "rock'n'roll" e o blues, todos esses de alguma forma ligados às críticas e à contestação do movimento.
“De um lado, o termo contracultura pode se referir ao conjunto de movimentos de rebelião da juventude que marcaram os anos 60: o movimento hippie, a música rock, uma certa movimentação nas universidades, viagens de mochila, drogas e assim por diante. Trata-se, então, de um fenômeno datado e situado historicamente e que, embora muito próximo de nós, já faz parte do passado”. “De outro lado, o mesmo termo pode também se referir a alguma coisa mais geral, mais abstrata, um certo espírito, um certo modo de contestação, de enfrentamento diante da ordem vigente, de caráter profundamente radical e bastante estranho às forças mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante. Um tipo de crítica anárquica – esta parece ser a palavra-chave – que, de certa maneira, ‘rompe com as regras do jogo’ em termos de modo de se fazer oposição a uma determinada situação. Uma contracultura, entendida assim, reaparece de tempos em tempos, em diferentes épocas e situações, e costuma ter um papel fortemente revigorador da crítica social.”
A partir de todos esses fatos era difícil ignorar-se a contracultura como forma de contestação radical, pois rompia com praticamente todos os hábitos consagrados de pensamentos e comportamentos da cultura dominante, surgindo inicialmente na imprensa foi ganhando espaço no sentido de lançar rótulos ou modismos. É vital a importância dos meios de comunicação de massa para configurar a contracultura: “pela primeira vez, os sentimentos de rebeldia, insatisfação e busca que caracterizam o processo de transição para a maturidade encontram ressonância nos meios de comunicação”.
O que marcava a nova onda de protestos desta cultura que começava a tomar conta, principalmente, da sociedade americana era o seu caráter de não-violência, por tudo que conseguiu expressar, por todo o envolvimento social que conseguiu provocar, é um fenômeno verdadeiramente cultural. Constituindo-se num dos principais veículos da nova cultura que explodia em pleno coração das sociedades industriais avançadas. O discurso crítico que o movimento estudantil internacional elaborou ao longo dos anos 60 visava não apenas as contradições da sociedade capitalista, mas também aquelas de uma sociedade industrial capitalista, tecnocrática, nas suas manifestações mais simples e corriqueiras. Neste período a contracultura teve seu lugar de importância, não apenas pelo poder de mobilização, mas principalmente, pela natureza de idéias que colocou em circulação, pelo modo como as veiculou e pelo espaço de intervenção crítica que abriu.
Por contracultura, segundo pode-se entender duas representações até certo ponto diferentes, ainda que muito ligadas entre si: Finalmente, esta ruptura ideológica do establishment, a que se convencionou chamar de contracultura, modificou inexoravelmente o modo de vida ocidental, seja na esfera social, com a gênese do Movimento pelos Direitos Civis; no âmbito musical, com o surgimento de gêneros musicais e organização de festivais; e na área política, como os infindos protestos desencadeados pela beligerância ianque. Pode-se citar ainda o movimento estudantil Maio de 68, ocorrido na França, além da Primavera de Praga, sucedida na Tchecoslováquia no mesmo ano. É difícil negar que a contracultura seja a última pelo menos até agora grande utopia radical de transformação social que se originou no Ocidente.