quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Jovens depressivos não se isolam, como se costuma pensar

Jovens que sofrem de depressão encontram amizades em outras pessoas que também possuem esse problema, deixando o senso comum de que depressão isola pessoas para trás, aponta estudo realizado por David Schaefer, da Universidade do Estado do Arizona, Estados Unidos, apresentado no encontro anual da Associação de Sociologia dos EUA.

Segundo Shaefer, em declaração ao site Science News, o jovem que não sofre de depressão "costuma manter amizades com aqueles que também são, digamos, alegres". Isso passaria a impressão de isolamento do depressivo, que, na verdade, apenas se junta aos seus semelhantes.

Foram estudadas análises de 3.702 estudantes anteriormente realizadas em outras pesquisas. Para cruzar os dados, um modelo matemático foi utilizado, no qual foram conseguidas as coincidências entre as amizades de jovens com humor parecido.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ficar online aumenta as chances de ficar apaixonado

NOVA YORK (Reuters Life!) - As pessoas com acesso à Internet em casa têm uma probabilidade maior de estarem em um relacionamento, uma vez que a Web ganha cada vez mais importância como local de encontro para os que estão em busca de amor, de acordo com uma pesquisa norte-americana.

Pesquisadores da Universidade de Stanford afirmaram que a Internet é especialmente importante para unir casais de pessoas do mesmo sexo e, em breve, poderá substituir os amigos como a primeira maneira na qual os norte-americanos conhecem seus parceiros.

"Embora pesquisas anteriores sobre o impacto social do uso da Internet revelaram-se ambíguas sobre o custo social do tempo gasto online, nossa pesquisa sugere que o acesso à Internet tem um papel importante a exercer ajudando os americanos a encontrarem parceiros", disse Michael Rosenfeld, professor associado de sociologia.

O estudo, apresentado no encontro anual da Associação Americana de Sociologia em Atlanta na segunda-feira, mostrou que 82,2 por cento das pessoas pesquisadas que tinham acesso à Internet em casa também tinham um cônjuge ou parceiro romântico, em comparação com 62,8 por cento daqueles que não tinham acesso à Internet.

O estudo usou dados de uma pesquisa feita no inverno de 2009 com 4.002 adultos nos Estados Unidos. Pouco mais do que 3 mil deles tinham um cônjuge ou um parceiro romântico.

Rosenfeld e Reuben Thomas, da City University de Nova York, descobriram que a Internet é a arena social que sem dúvida vem ganhando importância como local onde os casais se encontram.

"É possível que nos próximos anos a Internet ofusque os amigos como a forma mais influente de os americanos conhecerem seus parceiros românticos, destronando os amigos da primeira posição pela primeira vez desde o começo dos anos 1940", afirmou Rosenfeld em comunicado.

Os pesquisadores afirmaram ter descoberto que a Internet era especialmente importante para encontrar possíveis parceiros em grupos onde a oferta é pequena ou difícil de se identificar, como nas comunidades gays, lésbicas e de heterossexuais de meia-idade.

Rosenfeld afirmou que, entre os casais que se conheceram até dois anos antes de pesquisa, 61 por cento de casais do mesmo sexo e 21,5 por cento dos casais heterossexuais se conheceram online.

"Os casais que se conhecem online têm uma probabilidade maior de serem casais do mesmo sexo e de alguma forma de formações religiosas diferentes", disse Rosenfeld.

(Por Belinda Goldsmith)

Homens que ganham menos que as esposas são mais propensos à traição

De Karin Zeitvogel (AFP) – Há 1 dia

WASHINGTON — Os homens que ganham menos que suas mulheres são mais propensos a traí-las, especialmente se forem de origem latina, uma forma que talvez tenham encontrado para restabelecer uma identidade de gênero, já que se sentem ameaçados, revela um estudo divulgado nos Estados Unidos.

"Ganhar menos do que a mulher pode ameaçar a identidade de gênero dos homens, ao colocar em evidência a noção tradicional do homem como o arrimo da família", explica Christin Munsch, candidata a doutorado de Sociologia da Universidade de Cornell e autora do estudo apresentado nesta segunda-feira na reunião anual da Associação Americana de Sociologia.

"Esta relação pode ser particularmente forte em certos subgrupos para os quais a masculinidade tem tradicionalmente grande valor, como os homens latino-americanos", acrescentou.

De fato, o estudo mostrou que a infidelidade aumenta notoriamente quando o homem que ganha menos que seu cônjuge mulher é latino, provavelmente porque sustentar economicamente a família "é um dos traços que definem a masculinidade entre os hispânicos".

Por outro lado, o mesmo estudo mostrou que os homens, cujos pares são mais dependentes dele, também são mais propensos a serem infiéis, o que se torna uma situação sem saída para as mulheres.

No entanto, é diferente no caso delas.

Se uma mulher é o arrimo econômico da família, também é mais propensa a enganar seu companheiro, enquanto que, se ela depende de seu marido, é menos provável que seja infiel a ele.

No geral, as mulheres são 50% menos propensas a enganar seus companheiros, sejam quais forem as circunstâncias, segundo o estudo: 6,7% dos homens nos Estados Unidos foram infieis as suas mulheres num período de seis anos, contra 3,3 das mulheres.

"A feminilidade das mulheres não está definida por seu status econômico, e também não se define por suas conquistas sexuais. Portanto, a dependência econômica não é uma ameaça à feminilidade", afirma Munsch.

"Mas, em função da dupla moral sexual, é provável que a dependência econômica leve as mulheres a serem mais fieis".

O estudo indica que "quanto maior a educação, menor é a probabilidade de que elas sejam infiéis", o que parece indicar que a melhor maneira de evitar a traição sem renunciar a um trabalho bem remunerado, seria procurar um par numa biblioteca, num laboratório ou numa conferência.

Munsch analisou dados de 1.024 homens e 1.559 mulheres casados ou concubinos há menos de um ano.

Americanos com internet em casa vivem mais romances

Um estudo divulgado nesta segunda-feira mostra que adultos com acesso residencial à internet têm mais chances de encontrar um parceiro ou mesmo manter um relacionamento amoroso do que pessoas que não navegam pela rede de suas casas. Cerca de 82% dos homens e mulheres que usam a web a partir de seus lares têm um cônjuge ou parceiro, contra 63%, informa o estudo, apresentado na reunião anual da Associação Americana de Sociologia, em Atlanta.

"Nossa investigação sugere que o acesso à internet desempenha um papel importante para os americanos na busca pelo parceiro", diz Michael Rosenfeld, professor de Sociologia da Universidade de Stanford e coordenador do estudo.

Os pesquisadores descobriram também que a internet está ganhando cada vez mais relevância como canal de encontro entre pessoas que procuram companhia. Rosenfeld explica que, desde os anos 40, os amigos têm sido o principal vínculo usado pelos americanos para conhecer companheiros. Agora, é possível que a internet assuma a posição de liderança. "A rede é uma nova espécie de intermediário social, que pode reformular o tipo de casais e relações que temos", diz o pesquisador.

Rosenfeld e seus colegas analisaram dados de uma pesquisa nacional feita com 4.002 pessoas. Dos casais que se conhecem pela internet, 61% são homossexuais, segundo o estudo. Além disso, os parceiros que se encontram on-line são mais suscetíveis a seguirem religiões diferentes.

Pesquisa indica que ser filho único não prejudica vida social

Crescer sem irmãos não significa que uma criança terá poucas habilidades sociais ao longo da vida, disseram pesquisadores durante o encontro anual da American Sociological Association. A informação foi publicada nesta segunda-feira no site da "BBC News".

Um estudo norte-americano com mais de 13.000 com jovens de idade entre 11 e 18 anos levantou que "filhos únicos" foram escolhidos como amigos de escola com a mesma frequência que outros que tinham irmãos e irmãs.

Um estudo anterior da equipe de Ohio State University havia encontrado habilidades sociais pobres em filhos únicos no berçário.

Mas eles descobriram que as crianças mudaram durante sua vida escolar com os colegas que têm irmãos.

Os pesquisadores usaram dados de sociologia do Estudo Nacional de Saúde do Adolescente, onde estudantes em mais de cem escolas foram entrevistados durante o ano acadêmico de 1994-1995.

Cada aluno recebeu uma lista de todos os alunos em sua escola, e pediu para identificar até cinco amigos e cinco amigas, para que os pesquisadores medissem a popularidade de um aluno contando quantas vezes os colegas o identificaram como um amigo.

Em geral, os alunos no estudo foram nomeados como amigos por uma média de cinco colegas.

Não houve diferenças significativas entre os números dos que tinham irmãos e dos que não tinham nenhum.

O número de irmãos de um adolescente não parece afetar a popularidade.

O status sócio-econômico, a idade dos pais, raça, e se um adolescente vivia com os ambos pais biológicos ou não foram fatores que afetaram os resultados.

Segundo Donna Bobbitt-Zeher, coautora do estudo e professora assistente de sociologia da Ohio State University, "Como o tamanho das famílias nos países industrializados diminui cada vez mais, existe uma preocupação sobre o que isso pode significar para uma sociedade onde mais crianças crescem sem irmãos e irmãs".
(Folha Online)

Adolescentes, escola e sexo

Reza o mito que os adolescentes que têm uma vida sexual activa, são maus alunos. Um estudo apresentado no encontro da Associação Americana de Sociologia vem dizer que... há sexo e sexo.

Isabel Stilwell | editorial@destak.pt

Um estudo apresentado no encontro da Associação Americana de Sociologia vem dizer que os jovens que têm relações sexuais no contexto de uma relação amorosa estável são tão bons alunos como os que se mantém virgens. Contudo, o mesmo já não acontece com aqueles que andam sempre a saltar de cama em cama, e são praticantes do sexo por uma noite. Esses não só têm piores notas, comparativamente tanto com os abstinentes como com os que têm relações num contexto amoroso, como muitos outros problemas sociais.

E enquanto que os primeiros são cuidadosos com a contracepção e o uso do preservativo, os segundos são também maus alunos quando o assunto é "sexo seguro".

Ou seja a conclusão é a do bom senso comum, mas que os mais preconceituosos ou nervosos em questões de sexo, talvez não vejam à primeira, dizem os especialistas. Ou seja, que não é o sexo em si que está em causa, mas o tipo de relação que duas pessoas estabelecem entre si. De facto, não é certamente muito diferente daquilo que acontece com os adultos!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Usar ecobag ajuda mais do que assinar manifesto

Há 11 anos ele abandonou o uso do carro próprio. Desde de 1993, faz a separação do lixo em casa. Na sua cozinha, não entra quase nada de comida pronta. Para adoçar pratos e bebidas, só açúcar orgânico. Quando procura o outro extremo do paladar, vai de sal marinho.

O que para muitos poderia ser sacrifício, para Maurício Waldman, um dos mais antigos ambientalistas do Estado, é só hábito, que não tem nada de radical, não soa ecochato e nem de salvador do planeta.

"Toda vez que usamos sacola retornável e separamos o lixo para o catador levar, contribuímos bem mais do que assinar manifesto em favor do panda", simplificou.

"O Brasil é 3,06% da população mundial e 3,5% do PIB global. Mas somos, de acordo com estudos, origem de 5,5% ou 6,9% do total mundial do lixo urbano. Não adianta culpar os países ricos, o problema também é nosso! Só reduzir, reutilizar e reciclar não serve. É preciso repensar o modelo de consumo", afirmou.

Envolvido com os temas ambientais desde a década de 1970, Waldman enxerga evolução no comportamento da sociedade.

Contudo, ao mesmo tempo em que mudança aponta uma saída, mostra também como é longo o caminho.

"A conscientização cresceu. Muitos setores do empresariado avançaram. Nos anos 1990 se fabricavam 64 latinhas com 1 quilo de alumínio. Hoje, se fabricam 74, um avanço indiscutível."

Longe dos holofotes que iluminam os que vêm a público angariar prestígio divulgando suas ações ambientais, o exército de homens e mulheres que trabalha coletando, separando e transportando o lixo, pode ser marginalizado para muitos, mas é vital para a sobrevivência das cidades, segundo Waldman.

"É obrigatório lembrar dos catadores. As pessoas que dizem que a gestão do lixo está um caos não fazem idéia de como as coisas estariam sem o trabalho deles."

Para o especialista, como no título de sua publicação, entender o cenário e o desafio que o lixo apresenta para a qualidade de vida de todos é uma tarefa para Poder Público, indústria e sociedade.

"Os segmentos da economia que mais crescem relacionam-se com a preservação ambiental: energia solar, agricultura orgânica e a reciclagem. Apenas atrasados insistem na sacolinha e nos descartáveis. Não existe vida sem mudança."


Professor realizou trabalhos no Grande ABC

O Grande ABC também é parte da longa da trajetória do professor e pesquisador Maurício Waldman, 44 anos, reconhecido como um dos especialistas mais respeitados quando o assunto é gestão de resíduos sólidos.

Nos dois primeiros anos da década de 1990, Waldman foi coordenador de Meio Ambiente em São Bernardo. Em Ribeirão Pires, trabalhou em cursos de capacitação sobre lixo, água e afro-educação.

Em 2006, voltou à região, mas dessa vez defendendo tese sobre a gestão dos recursos hídricos, enfocando também os mananciais do Grande ABC, com destaque para a Represa Billings.

Waldman é graduado em sociologia, mestre em antropologia e doutor em geografia, todos pela USP (Universidade de São Paulo).

Sua atuação profissional está concentrada em três esferas: no ativismo ecológico, na administração pública e no meio acadêmico.

Entre atividades realizadas no Brasil e no exterior, Waldman também se destaca pela publicação de livros e consultoria em relações internacionais, religião, topologia, antropologia, cidadania e racismo.

Atualmente, Waldman, que foi assessor do histórico ambientalista Chico Mendes, defensor das causas da floresta Amazônica, é pós-doutorando na área dos resíduos sólidos junto ao Instituto de Geociências da Unicamp, onde também é professor da disciplina Geografia da África Negra.

POLÍTICA NACIONAL
O tema abordado no seu mais recente livro, Lixo: Cenários e Desafio, deverá receber mais atenção dos governos a partir da nova Política Nacional dos Resíduos Sólidos - sancionada pela presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no começo de agosto.

Entre outras regras, a norma prevê a extinção dos lixões e o aumento dos índices de reciclagem. (André Vieira)


Trechos

"Decorrência da manifesta vocação das sociedades humanas para transformar o meio natural, o lixo é indissociável das atividades desenvolvidas pelo homem, tanto no tempo quanto no espaço. Assim sendo, sem que nesta afirmação exista qualquer exagero, já nos primórdios da humanidade o lixo constítuia um foco obrigatório de atenções."
Página 11

"Exibindo nos dias atuais uma performance que a mais audaciosa das profecias jamais ousou vaticinar, pela primeira vez na história o homem se sente ameaçado, no âmago de sua alma, pelo lixo. (...) Tomada de incerteza quanto à sua capacidade de solucionar um problema engendrado, no final das contas, por ela mesma, a sociedade contemporânea tornou-se presa da sensação de impotência em dar conta da questão."
Página 45

"(...) O plástico parece ter invadido todas as redes sociais e econômicas. Até as feiras de rua, bastião de formas tradicionais de aquisição de alimentos, também capitularam diante do material. Atualmente, os fregueses levam junto com suas compras tanto plástico-filme quanto se estivessem retornando de um moderno supermercado. A insidiosa invasão do plástico em todos os espaços planetários tornou-se um descalabro mundial. Objetos feitos com esse material estão boiando em praticamente todas as águas marinhas do globo terrestre."
Página 58

"Em síntese, os almejados ‘R'' de Repensar, Reduzir e Reutilizar, apenas poderão se impor - ombro a ombro com práticas ecológicas efetivas abraçadas pelo conjunto da população - mediante um corpo de leis que imponha ações restritivas, coercitivas e/ou punitivas para o setor produtivo e uma atuação do Estado na qual ele demonstre agilidade e efetivo interesse público em fazer com que sejam cumpridas."
Página 214

domingo, 15 de agosto de 2010

Pretenso espaço de democracia, esporte ainda sofre com o racismo

Casos de preconceito pelo mundo colocam em xeque caráter agregador das práticas esportivas
Gustavo Franceschin

Os sucessivos casos de racismo em campos, quadras e pistas por todo o mundo colocam em xeque a ideia de que o esporte é um espaço de democracia racial. A dificuldade no combate às práticas preconceituosas, que cresceram nos últimos anos, questiona o mito de que as diversas modalidades simbolizam a igualdade dos povos e escancara a fragilidade da posição do negro na sociedade civil.

A ideia em xeque está espalhada por diversos setores da população. A falta de oportunidade em outras áreas combinada com o talento prático se traduz na percepção do esporte como mecanismo de mobilidade social.

Dentro desse contexto, em um passado recente, torcedores e atletas se acostumaram a ver cenas como a do camaronês Samuel Eto’o. Em 2006, o então atacante do Barcelona ameaçou deixar o gramado em um jogo do Campeonato Espanhol sob o som de imitações de macacos feitas pela torcida do Zaragoza.

Desde então pouca coisa mudou. Apesar da pressão feita pelas entidades responsáveis, atletas e torcedores continuaram a se manifestar de forma racista pelo mundo, especialmente no futebol. Curiosamente, o esporte mais popular do mundo é uma das modalidades na qual o negro é mais valorizado do ponto de vista técnico.

“Isso mostra a sistemática diferença de posição que os negros ocupam na sociedade. Mesmo em um espaço em que eles são considerados como pessoas que se sobressaem no sentido positivo, em situações de tensão e disputa brancos ainda podem se sentir superiores. Isto deixa a outra pessoa, que sofre a expressão do preconceito, em uma situação de grande debilidade, porque ela não sabe quando é que esta tensão vai aflorar”, disse Fúlvia Rosemberg, professora de psicologia social da PUC-SP.

Especialmente quando os insultos acontecem entre jogadores, os envolvidos costumam aplicar a teoria do contexto, segundo a qual a violência pertinente ao esporte permite que certas agressões verbais sejam relevadas. A afirmação gera polêmica entre especialistas.

“Como no Brasil nós vivemos com o mito da democracia racial, a nossa tendência é minimizar expressões de racismo dizendo que é brincadeira, que a intenção não era de agredir o outro. Só que eu estou provocando com um conteúdo que diminui a outra pessoa. Você tira a humanidade da pessoa chamando de ‘macaco’ e a rebaixa a uma posição de animalidade. Rebaixando a uma posição de animalidade, eu estou aceitando uma visão de mundo na qual essa pessoa não é pessoa, vale menos do que eu”, disse Rosemberg.

“Dentro das quatro linhas realmente tem uma espécie de cultura do futebol. O jogo é muito agressivo mesmo. Agora, manifestações de torcidas são inaceitáveis, assim como na televisão e no jornal. Quanto mais público isso se torna pior. No espaço entre linhas acho que depende do caso a caso. Os próprios jogadores normalmente percebem quando passa do limite”, disse Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, professor titular de sociologia da USP.

Estudo da UFSC traça perfil de jogadores brasileiros

A grande maioria dos jogadores de futebol brasileiros que vão trabalhar no exterior são caçulas. Raros são os primogênitos. Muitos tiveram irmãos mais velhos que também desejavam jogar futebol, mas precisaram abandonar esse projeto para contribuir com a economia da família. Menos frequente do que o “caçulismo”, mas também recorrente entre os jogadores brasileiros de clubes globais é a origem em famílias com a ausência do pais e mãe vivendo com os avós maternos.

ão jovens com origem nas chamadas camadas sociais subalternas e a maioria “cruza fronteiras geográficas sem ingressar em países, pois suas fronteiras são os clubes”.

Os dados fazem parte de uma pesquisa desenvolvida pela professora Carmen Rial, do Departamento de Antropologia da UFSC. O estudo aconteceu no período de 2003 a 2009, com cerca de 40 jogadores brasileiros de futebol que viviam ou haviam morado e exercido sua profissão no exterior.

“Concentrei o levantamento na cidade de Sevilha, na Espanha, onde morei quatro meses, com intervalo de um ano, e em Eindhoven, na Holanda, onde estive em três oportunidades, com intervalo de dois anos. Também conversei com muitos familiares, amigos, empresários, técnicos e secretários, realizei entrevistas, assisti a treinos e a jogos, visitei seus restaurantes preferidos e algumas de suas casas no Canadá (Toronto), Holanda (Almelo, Groningen, Alkmaar, Roterdã, Amsterdã), Japão (Tóquio), na Grécia (Atenas), na India (New Dehli), na Tailandia (Bangkok), no Marrocos (Marraqueche) e também no Brasil (Fortaleza, Salvador, Belém)”, conta Carmen.

Foram ainda realizadas longas conversas telefônicas com jogadores e seus familiares na França (Lyon, Le Mans, Nancy, Lille), Mônaco e Bélgica (Charleroi). O objetivo do estudo foi “traçar um perfil desses emigrantes especiais, através do escrutínio de dimensões que marcam seus estilos de vida”, explica Carmen, orientadora de dissertações e teses que têm como objeto de análise o futebol e vêm sendo desenvolvidas a partir do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFSC.

Caçulismo
De acordo com Carmen, a concentração de caçulas entre os jogadores entrevistados mostra que, na repartição familiar das atividades, estes foram beneficiados com a possibilidade de realizar o projeto mais desejado entre os jovens de camadas subalternas no Brasil: o de se tornarem jogadores de futebol profissional.

Para a pesquisadora, o “caçulismo” corrobora a idéia de que a carreira de jogador de futebol é um projeto familiar, no qual é necessário algum excedente econômico para propiciar a liberação de um integrante do trabalho remunerado.

Segundo ela, jogar futebol no Brasil não é ocupação da parcela social considerada miserável, pois o esporte demanda um mínimo necessário para um jovem se profissionalizar (chuteiras, contatos com os clubes, passagens de ônibus, dispensa do trabalho). Também não é ocupação das camadas sociais dominantes, cujos projetos de continuação da reprodução social do capital prevêem que os herdeiros, preferencialmente os filhos homens, assumam a liderança dos negócios.

Futebol é um projeto possível para uma larga faixa da população brasileira, a das camadas subalternas, que vai dos pobres até as camadas médias baixas - cerca de 90% dos entrevistados. “Foi nesta faixa que encontrei a maioria dos meus interlocutores, com uma origem social de pais operários do ABC: trabalhadores rurais, serralheiros, carpinteiros, funileiros, vendedores ambulantes, empregadas domésticas, sacoleiras, marinheiros. As histórias que ouvi têm muitos pontos em comum, são histórias de vida de famílias que, como reconhecem, não passavam fome, mas passavam necessidade.”, descreve Carmen.

Exílio voluntário
No mercado restrito e controlado do futebol global, em que as nacionalizações são exigências legais e o jogador precisa conviver com diversas dificuldades provocadas pela distância do Brasil, a pesquisa traça o perfil de um emigrante que mesmo com a obtenção da cidadania legal continua sendo visto e percebendo-se como estrangeiro. “Adquirir a nacionalidade do país de acolhida nem de longe significa adquirir sentimentos nacionalistas em relação a esse país ou uma identidade outra que a brasileira. A brasilidade permanece como única identidade de pertencimento étnico”, avalia a jornalista e antropóloga, doutora em Antropologia e Sociologia pela Universidade de Paris.

Sua vivência com os jogadores mostra que o Brasil é permanente no estilo de vida dos “jogadores globais”. Na circulação entre os espaços mais frequentados nos seus cotidianos – a casa, o automóvel, o estádio, o restaurante, a Igreja Evangélica – o contato com o país de origem é constante. “Todas as vezes que entrei em um automóvel de jogador, os CDs que foram tocados eram de músicas brasileiras. A televisão que assistem diária e intensamente é a Globo Internacional, retransmissora dos canais Globo, SBT e Record. Mesmo distantes acompanham as noticias do Jornal Nacional e principalmente as novelas das oito e o programa de Sílvio Santos”, conta Carmen.

A televisão, os DVDs e as fitas cassetes com música brasileira, a Internet, trazem os jogadores imaginariamente e diariamente ao Brasil. “Ou se preferirem, os mantêm no Brasil”, complementa a pesquisadora. Seu estudo comprova que o círculo das mercadorias que consomem reafirma permanentemente a identidade nacional. “O local (Sevilha, Lille, Eindhoven, Le Mans, Marselha, Bruxelas, Alkmar, Tóquio, Toronto, Almelo...) parece contar pouco para esses sujeitos, pois ainda que possam adquirir imóveis, ter filhos, vivem permanentemente com a possibilidade de mudar-se para outro clube, em outra cidade, em outro país.”

Com relação a esta movimentação, o levantamento revela que o retorno para o Brasil, durante ou ao final da carreira, tem sido a regra e, para Carmen, esse fato reafirma a tese de que essa emigração trata-se de fato de uma circulação. Um “rodar” que entre os jogadores tem significado de experiência e de valorização profissional.

Porém, viajar entre fronteiras não significa necessariamente que conheçam os países que visitam. A rotina de viagens é prevista pelo clube e altamente controlada, com pouca margem de tempo para que os jogadores se desloquem nas cidades para conhecer os locais onde estão.

Na avaliação da pesquisadora, os jogadores entrevistados fornecem um exemplo empírico extremo do viver entre fronteiras. Apesar de sua presença física em outro país, continuam vivendo no Brasil, tanto no plano da imaginação quanto no econômico, pois no Brasil mantêm casas, sítios, carros, contas bancárias, investimentos múltiplos e sustentam familiares. “Nesse sentido, são transmigrantes”, denomina Carmen. Mesmo depois de nacionalizados, destaca, eles continuam a se ver como brasileiros e a pensar o futuro como sendo o Brasil. “São cidadãos europeus de direito, sem terem deixado de sentirem e serem percebidos como estrangeiros”.

A Espanha, a França, a Holanda, a Coréia, o Japão ou qualquer outro lugar em que a sua mobilidade no sistema futebolístico os leve a "rodar", é apenas uma passagem, algo que se faz como um trabalho, com sacrifício, para receber a recompensa de prestigio profissional e financeira. “Vivem um exílio voluntário, com a dor que esse termo encerra”, descreve a pesquisadora em artigo que foi apresentado em Lisboa, no colóquio Sport and Migration. O material está acessível em português na internet: Rodar: a circulação dos jogadores de futebol brasileiros no exterior

Saiba Mais
- A maioria dos jogadores entrevistados tinha apenas o primário, cerca de 10% conseguiram terminar o secundário, um havia sido aprovado no exame vestibular (tendo abandonado a faculdade quando se mudou para o exterior) e apenas um formou-se em curso superior.

- Três entre suas esposas concluíram o terceiro grau, mas há uma tendência de que apresentem uma escolaridade maior do que a dos jogadores.

- Todos demonstraram estar conscientes de que a ascensão econômica em suas vidas só foi possível graças ao futebol – atribuem a uma prerrogativa divina o fato de terem ascendido, como se tivessem sido escolhidos: "Tudo o que sou, devo a Deus", "Deus quis assim", "Graças ao Senhor" são frases que pontuam suas falas.

- Praticamente todos os entrevistados empregaram o primeiro dinheiro que receberam para adquirir uma casa para a mãe, ou para fazer uma reforma, quando ela não deseja deixar a vizinhança onde mora, realizando um sonho e devolvendo um pouco do que dizem ter recebido.

- Os altos salários recebidos pelos jogadores na Europa e no Japão não se refletem em consumos ostentatórios de sua parte, como parte da imprensa leva a crer. De fato, seus hábitos de consumo aproximam-se mais os de uma camada média alta do que de milionários que são – não transitam em aviões particulares, não possuem iates ou submarinos, não passam as férias em ilhas particulares, não freqüentam restaurantes de luxo.

- Os que estão em clubes-globais moram em casas espaçosas localizadas em bairros nobres, geralmente os que concentram grande número de jogadores de futebol, porém não há na decoração das casas nenhuma grande extravagância. Continuam a vestir-se como os jovens de sua idade (com tênis, jeans e camisetas, ainda que essas sejam de marcas caras), a comer em casa ou em restaurantes que sirvam uma comida próxima da brasileira, a terem como diversão as salas de bate-papo da Internet (onde se relacionam com familiares, amigos e outros jogadores de futebol), os CDs e DVDs de músicas brasileiras, a TV Globo Internacional, os jogos eletrônicos (especialmente o Playstation da Fifa, disponível também em qualquer lan-house no Brasil).

Modernidade, corpo e futebol: uma análise sociológica da produção social do jogador de futebol no Brasil

1. Introdução

O presente trabalho tem por objetivo investigar a relação entre modernidade, disciplina e formação do jogador de futebol profissional. Discute o futebol moderno como instituição disciplinadora, dotada de regras, normas e princípios científicos (positividades), tendo como objetivo produzir, manipular, individualizar, adestrar e aperfeiçoar o corpo do indivíduo, tornar o jogador dócil e utilitário. Traça um breve paralelo entre a produção social do soldado e do jogador de futebol, com base no referencial de M. Foucault, entendendo estes como resultado do poder disciplinar em suas respectivas instituições das quais são produtos.

Trata-se de uma pesquisa empírica sobre a formação do jogador de futebol profissional no Brasil, tendo como recorte empírico as categorias de base (Juvenil e Júnior) e Profissional do Sport Club Internacional de Porto Alegre-RS1.

O procedimento metodológico consistiu inicialmente numa revisão da literatura. Utilizou-se entrevistas semi-estruturadas com seis atletas, sendo três da categoria juvenil e três dos profissionais. Aplicamos 56 questionários divididos da seguinte forma: 20 na categoria juvenil, 20 entre os atletas júniores e 16 na categoria profissional. Realizamos entrevistas com dirigentes e técnicos.


2. Breve relato histórico sobre o futebol no Brasil

O futebol surge no Brasil no final do século XIX, quando Charles Miller retorna da Inglaterra, em 1894, trazendo materiais próprios desse esporte: bolas, camisas, calções e chuteiras. Charles Miller introduz o futebol no Brasil, inicialmente no estado de São Paulo, entre os jovens da elite paulistana. O elitismo é uma marca do nascimento do futebol no Brasil. Negros e mulatos eram excluídos dessa “nobre prática esportiva”, sendo um privilégio dos membros da elite nacional. O futebol aparece como elemento da modernidade. Como afirma Helal (1990:38), “De início, logo após a atividade de missionário exercida por Charles Miller, o futebol teve como focos de irradiação o meio industrial e aristocrático, ligados aos hábitos de lazer da colônia européia”.

É somente nas primeiras décadas do século XX que começa a popularização do futebol. Sua democratização e consagração como elemento da cultura nacional dá-se nos anos 1930, quando ocorre a profissionalização em 1933 (Moura, 1998:19).

O futebol seria um instrumento de emancipação social dos negros, mulatos e brancos pobres no Brasil, um espaço que possibilitaria ascensão social, independentemente de poder econômico e do grau de escolaridade (Rosenfeld, 1993; Lever, 1983). Esta tese é defendida também por Mário Rodrigues Filho (1964) em “O Negro no Futebol Brasileiro”. Trata-se de um trabalho tido como referência para outros estudos, mas muito contestado pela utilização de modelos gerais de elitismo, racismo e luta de classes. É rico em informações e pobre em análise, sendo dotado de pouca cientificidade. No entanto, nas décadas de 1980 e 1990 o perfil sócio-econômico do jogador brasileiro altera-se, especialmente com a proliferação de escolinhas particulares e a redução dos campos de várzea resultantes da expansão imobiliária e da modernização do futebol. As possibilidades de mobilidade social via futebol são cada vez mais estreitas ou até impossíveis (Melani, 1999; Pimenta, 2000). A defesa da tese do futebol como instrumento de ascensão social requer um estudo empírico amplo.

A história do futebol no Brasil pode ser divida em cinco períodos. Levine (1982: 23) utiliza a seguinte periodização: (a) primeira fase (1894-1904): marcada pela chegado do futebol ao país e a criação de clubes urbanos por imigrantes europeus que aqui moravam. Importa frisar a relevância do São Paulo Athletic Club a quem Charles Miller se filiou organizando a prática futebolística em São Paulo. Nesta fase, o futebol era praticado nos colégios da elite paulista e carioca Alfredo Gomes, Anglo-brasileiro (Caldas, 1990:23), além de outros estados; (b) fase amadora (1905-1933): caracterizada pelo elitismo na platéia e na composição dos times (Lopes, 1994:70), e ampla divulgação pela imprensa (Levine, 1982:25). Havia racismo forte, eram proibidos negros na seleção brasileira e em vários outros times. Este período coincide com o futebol de fábricas, onde o futebol era usado como mecanismo de diversão e disciplina para os trabalhadores, bem como veículo publicitário importante na divulgação da imagem e prestígio das empresas (Antunes, 1994:106-107). Mas o que melhor define esta fase é o amadorismo “[...] herdade da concepção aristocrática de uma prática esportiva oriunda da classe dos lazeres, vinda da Inglaterra e reservada a uma elite, e o esporte ‘paternalista’, representado pelas equipes de empresas” (Lopes, 1994:66); (c) fase do início do profissionalismo (1933-1950), regulamentação do futebol como profissional pela legislação social e trabalhista do governo Vargas 1930-1936. O futebol torna-se um espetáculo de massa; (d) fase do reconhecimento (1950-1970). O Brasil consolida seu estilo de jogar futebol, tendo como arquitetos os negros e mulatos. O futebol-arte, feito de magia, ginga e improviso constrói a identidade nacional, tendo Leônidas, Domingos, Garrincha e Fausto como principais expressões (Rodrigues Filho, 1964). Esta fase se caracteriza pela crescente comercialização do futebol. Desejamos acrescentar uma outra fase: fase da modernização (Pós-1970), marcada pelo crescimento de recursos financeiros no futebol, televisionamento das partidas, crescimento no nível salarial dos jogadores e no êxodo de jogadores brasileiros para o futebol europeu nas últimas décadas do século XIX.

A passagem do amadorismo para o futebol profissional é marcada pela entrada em cena de jogadores de origens populares nos grandes clubes, apesar dos obstáculos quase instransponíveis que tiveram que enfrentar. Os jogadores negros e mestiços são os pioneiros no que viria a ser chamado de “estilo brasileiro de jogar futebol”. Esses serão os atletas socialmente identificados como os criadores e a razão de ser do conhecido futebol-arte, uma das peculiaridades brasileiras nesse esporte (Lopes,1998:19). A forma espontânea de jogar, caracterizada pela astúcia, criatividade e improviso, segundo a narrativa que domina o imaginário social sobre o futebol, nos diferenciaria dos países europeus. Essa técnica futebolística (“ginga brasileira”) seria também considerada um elemento importante na construção da identidade nacional.

O momento que marca realmente a consolidação do profissionalismo no futebol brasileiro pode ser dado de 23 de janeiro de 1933. A luta pelo profissionalismo pode ser traduzida em lutas entre classes e grupos sociais. Antes desta data, havia o famoso “profissionalismo marrom”. Os jogadores recebiam para jogar, mas o pagamento era disfarçado para burlar as proibições e legislações vigentes (Caldas, 1990).


3. A modernidade

A modernidade caracteriza-se pela descontinuidade, fragmentação, ruptura e deslocamento do sujeito de estruturas tradicionais Giddens (1991), Harvey (1992), e Laclau (1990). A era moderna inicia-se com a superação da ordem medieval, provocando alterações em praticamente todas as dimensões da vida humana. A modernidade, enquanto projeto de civilização, assenta-se num conjunto de valores como racionalidade, individualismo, autonomia, desencantamento do mundo e a universalidade. Valores estes apresentados como universais. A explicação das relações sociais travadas na modernidade é o propósito maior da sociologia como ciência.

É importante frisar que os clássicos da sociologia trataram a modernidade, em determinados aspectos, de modo semelhante, entendendo-a como época nova, oposta ao passado, caracterizada por rupturas nas diversas esferas da vida social. Trata-se de momento de expansão social do saber e dos domínios sobre a natureza, entre os homens e as possibilidades de progresso. Nesta perspectiva, a modernidade é antinatural, antitradicional, antimetafísica, tendo como polaridades básicas: social/natural, moderno/tradicional, racional/emocional, científico/metafísico. Associação entre universalismo e individualismo como tendência moderna: este é o entendimento comum entre os clássicos.

Na sociologia clássica, o mundo moderno é marcado pela sociedade dos indivíduos. Os homens têm interesses, ações liberadas, quebrando barreiras, mas criando outras, como o Estado de Direito (Durkheim), Burocracia (Weber) circuito do capital (Marx). civilização moderna como uma cultura racionalista, tendo como pilares o individualismo (o homem moderno), universalismo (o contexto moderno como inovação histórica) e cognitivismo (a ciência moderna). É necessário ressalta que as concepções sobre a modernidade a racionalidade são diferentes. Em Marx percebe-se uma crítica ao caráter e uso burguês da ciência e sua conseqüente transformação em força produtiva. Weber preocupou-se em sublinhar a singularidade da cultura Ocidental, sendo a racionalização o componente chave desta cultura. Em Durkheim, verificamos a ênfase da dimensão coletivista da racionalidade.

A individualidade do homem como condição para a universalidade. Ruptura com a tradição, ensejando novas bases de intercâmbio dos indivíduos. É, portanto, o momento no qual culmina o processo de separação entre o homem e natureza. Marca o advento de determinado tipo de interesse pelo corpo.

4. Poder disciplinar, corpo, formação do indivíduo moderno e
a produção social do jogador de futebol

Em Vigiar e Punir Foucault (1987) elabora uma genealogia do direito penal racionalizado e da execução penal cientificamente humanizada. Sua análise centra-se no surgimento do regime moderno de poder, o qual busca o afinamento e a adaptação aos instrumentos que vigiam a identidade, os gestos, as atividades e os comportamentos cotidianos dos indivíduos. O poder é imposto por meio de processos de aprendizagem prático-moral, contribuindo com o adestramento dos indivíduos através da socialização.

As instituições sociais modernas: escola, fábrica, hospital, polícia disciplinam o indivíduo, manipulam e controlam os corpos. A ordem social sustenta-se na sua capacidade de comando e direção permitida pelo conjunto de instituições e organizações administrativas. A manipulação ocorre através do disciplinamento por meio das instituições sociais. O esporte moderno pode ser considerado como instituição disciplinadora dos corpos. Esta concepção integra a obra de Muller, Dieguez e Gabauer (Bracht, 1997:46). O que nos possibilita investigar o futebol como instituição disciplinadora de corpos.

A análise de Foucault acerca do poder preocupa-se em captá-lo em suas extremidades, capilar, ramificações, manifesto nas instituições locais e regionais, examinado sua materialização. O poder como algo que circula, funciona em cadeia e redes (Foucault, 2001:182-3). O poder passa sobre os indivíduos, fazendo com que os gestos, corpos, desejos e discursos funcionem e sejam identificados como indivíduos. O indivíduo é um efeito do poder, sendo criação e veículo de transmissão.

A idéia de poder como rede, micro, estendendo-se ao conjunto de esferas sociais pode ser aplicada à análise do futebol, especialmente as relações de controle social, condicionamentos físicos, técnicos e táticos, ordenamentos e hierarquia das posições. O técnico revela seu poder por meio dos esquemas, os atletas procuram sempre “escutar e fazer o que o técnico manda” (D.Rincón, 20, atleta). Trata-se de um poder disciplinar em forma de técnicas, dispositivos, métodos de controle do corpo e dos atos dos indivíduos, almejando à docilidade e utilidade. Os treinamentos físicos, táticos e técnicos manipulam o corpo, na tentativa de alcançar o padrão ideal de jogador, resistente e habilidoso. Trata-se de colocar os jogadores “em forma”, preparados para jogar.

A disciplina produz maneiras de agir e comportamentos, fabrica o homem necessário a determinadas funções. O poder disciplinar trabalha o corpo no sentido de torna-lo força de trabalho, capaz de proporcionar os melhores rendimentos possíveis. O jogador de futebol é uma força de trabalho produto do disciplinamento, treinamentos e do desenvolvimento de seu potencial genético (Carravetta, 2001:19).

A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). [...], ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma aptidão, uma capacidade que ela procura aumentar; e inverter por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita (Foucault,1987:127).

Disciplina como obediência técnica e tática, sendo uma disciplina corporal e moral. O poder disciplinar manifesta-se das seguintes formas: (1) A disciplina é um tipo de organização do espaço. Distribui os corpos em espaços específicos e individuais, classifica-os, conforme determinadas funções. A disciplina constitui um controle do tempo (Machado, 2001:XVII). Horários marcados para as tarefas. O corpo é sujeito ao tempo, busca-se produzir com rapidez e eficácia. O que mais interessa é o desenvolvimento e não o resultado da ação. Nos clubes de futebol existem horários marcados para treinamentos, jogos e atividades recreativas. Tem-se o controle minucioso do corpo e de suas operações, buscando articulação entre corpo e objeto manipulado. Interessa-nos saber como se organiza o espaço entre os jogadores do SC Internacional, na distribuição de funções e o controle que o técnico tem nesse processo. (2) A vigilância como instrumento de controle social usado pelo poder disciplinar. Trata-se do controle discreto, invisível. Por exemplo, o poder vigilante do Panopticon de Bentham (Machado, 2001:XVIII). Este controle sem ser visto pode existir também no clube de futebol. Os atletas em formação reclamam da ausência de vida normal, do excesso de trabalho, treinos de diferentes naturezas e as proibições de sair à noite constituem uma espécie de controle social.

É neste sentido que a noção de vigilância de Foucault será utilizada para investigar o controle dentro do clube.

O objetivo político e econômico do poder disciplinar é tornar o corpo humano útil e dócil (Foucault, 2001). O poder disciplinar não é negativo, mas positivo, ele produz o indivíduo moderno, sendo uma técnica de controle social muito eficiente desenvolvida nas sociedades modernas desde o século XIX. Para Foucault (2001:183-4), “[...] o indivíduo não é o outro do poder: é um de seus primeiros efeitos. O indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser um efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele constituiu”. O poder moderno ao invés de massificar, descaracterizar, ele individualiza e unifica. Numa massa desordenada, o poder faz o indivíduo emergir como alvo, esquadrinhado. O nascimento da prisão não é uma massificação, mas o isolamento celular, total ou parcial, inovação no sistema penitenciário. O nascimento do hospício não destruiu o específico da loucura, ele é produzido como doente mental, individualizado, com relações disciplinares de poder para cuidar do doente.

Pesquisa investiga os motivos por que homens e mulheres são infiéis

A pergunta será feita em algum momento por quem se descobre traído por aquele que ama. Por quê? O que faltou?

Essa também é a pergunta feita já no título do novo livro da antropóloga Mirian Goldenberg: Por que Homens e Mulheres Traem?. Em busca de respostas, Mirian realizou uma pesquisa com 1.279 homens e mulheres das camadas médias cariocas, de nível universitário e idades entre 18 e 50 anos. A primeira constatação é que, ao menos no discurso, a traição é uma prática frequente: dos entrevistados, 60% dos homens e 47% das mulheres admitiram já ter traído alguma vez na vida.

Mas segue a pergunta: por quê? Com a experiência de quem se dedica há duas décadas a comprender temas como sexualidade e novas conjugalidades na cultura brasileira, a professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro consegue desconstruir o lugar-comum e iluminar um tema tão antigo quanto palpitante. Estão lá, claro, as desculpas clássicas, como a velha máxima da "natureza masculina". Mas a pesquisadora vai além da figura do homem que se julga poligâmico por natureza (embora ele exista, como mostra o estudo) e detalha outras razões que levam à infidelidade, sinalizando mudanças de costumes: mulheres alegando falta de intimidade com o marido e o desejo de se sentirem desejadas, e homens justificando a infidelidade por conta de crise no casamento, ou sofrendo por serem traídos.

— Há muita coisa nova que mostra que a igualdade entre os gêneros é muito maior hoje do que há 30 anos. A própria desculpa da "natureza masculina" já não pega tanto: há fatores sociais que explicam a traição, não biológicos. As mulheres mudaram muito e já não entram nessa, embora sigam usando as desculpas delas, de que a culpa é do marido. Mas os homens, daqui a pouco, vão dizer: "Se não estou te satisfazendo, vamos nos separar". Quem trai tem que lidar com aquele que escolheu para viver.

Uma missão mais difícil hoje: em tempos de maior liberdade de escolha, diz Mirian, a descoberta de uma traição tem ainda mais poder para destruir o casamento. Confira nas páginas a seguir a entrevista com Mirian Goldenberg e os depoimentos de homens e mulheres contando por que traíram.

Por que eles traem

Entre as justificativas mais comuns dos 444 homens entrevistados, estão variantes para "natureza masculina" (genética, vocação, "sou fiel a mim mesmo"...), questões circunstanciais (oportunidade, Carnaval, "Não dizer não a uma cantada"), meas-culpas (burrice, imaturidade, vaidade, fraqueza), necessidade de (se) comparar ("Para descobrir se era melhor que minha esposa", "Competição com os Amigos") e ainda crise pessoal ou no casamento.

Por que elas traem

Das razões mais apontadas pelas 835 entrevistadas (quase o dobro dos homens), variações de uma mesma nota: insatisfação com o parceiro, carência e desejo de se sentir desejada e especial. A parte da lista iniciada por "falta de" tem 25 variantes, de intimidade a romance.

A "outra" e única

Não só a esposa, a outra também exige fidelidade. Na pesquisa, todas afirmam que seus amantes não têm mais relações sexuais com a mulher. Na cama e no desejo do parceiro casado, elas se sentem as únicas, o que serve também para justificar a situação.

Não há o "outro"

Muito se fala da outra, mas pouco ou nada do "outro". Mirian Goldenberg explica: não existe a figura do outro na nossa cultura, apenas do homem que faz outro de corno.

— Ele é o poderoso, o que vai dizer com orgulho "Estou transando com a mulher do fulano". E está com várias outras, sem esperar um telefonema dela, passivo, no sábado à noite.

Poligâmicos X monogâmicos

Na pesquisa, despontaram dois grupos de homens: os poligâmicos, que criticam a hipocrisia da sociedade por tentar regular a natureza masculina, e os monogâmicos, para quem a fidelidade é uma necessidade amorosa. Mas alguns ditos monogâmicos são infiéis. O que muda é a desculpa, observa Mirian:

— O poligâmico diz que não pode trair sua natureza, e o monogâmico alega crise pessoal ou do casamento. A diferença é que o poligâmico trai mesmo amando e desejando a esposa, e o monogâmico, não.

ENTREVISTA
Em entrevista por telefone, desde o Rio, Mirian Goldenberg comenta a pesquisa que apresenta no livro Por que Homens e Mulheres Traem:

Donna - Os números da sua pesquisa impressionam: 60% dos homens e 47% das mulheres dizem já ter traído. Isso lhe surpreendeu?
Mirian Goldenberg - Não. Primeiro, porque estou trabalhando com o discurso sobre traição: não sei se efetivamente 60% dos homens e 47% das mulheres já traíram. Isso é o que eles dizem. Segundo, homens parecem trair mais não só numericamente, mas mais frequentemente. A pergunta feita é "Você já traiu alguma vez na vida?" e não "Você está traindo agora?". Homens traem mais e com mais mulheres ao longo da vida. As mulheres já traíram alguma vez, não quer dizer que tanto ou com tantos homens. Só que o significado da traição é diferente para homens e mulheres: elas podem se sentir traindo apenas por ter dado um beijo. Traem por sentir alguma falta, não necessariamente de sexo.

Donna - Na lista das razões mais comuns por que as entrevistadas traem, chama a atenção que grande parte começa com "falta de...".
Mirian - A falta delas é de um tipo de comunicação, de atenção, de intimidade, de que precisa para se sentir em uma relação de verdade. Não é uma falta sexual. Por um lado, é essa falta de intimidade, e por outro, de se sentirem romanticamente - não apenas sexualmente - desejadas. Poderia ser pelo marido, que não faz mais isso. Com a desculpa do casamento, as pessoas fazem coisas horríveis com o outro, não só vestir a pior roupa, como ficar com a pior cara e tratar do pior jeito. Muita gente trai por isso: para ser o seu melhor, o mais sedutor, charmoso e bonito que não consegue ser com a esposa e o marido.

Donna - No livro, as mulheres reclamam mais intimidade, e os homens, mais compreensão. Em que momento se dá esse desencontro?
Mirian - Um exemplo é o da mulher de 60 anos que transa com o cara de 40. Encontrei muitas mulheres nessa faixa com amantes mais jovens, e é óbvio que o que eles estão buscando não é o sexo, mas um espaço onde se sintam de novo admirados, ouvidos. A mulher (do homem citado acima) está sempre mal-humorada, dizendo que ele não faz o que deveria. Muitos homens se sentem assim no casamento, e as mulheres estão realmente exigindo como nunca. E muitos encontram na amante aquela coisa mais gostosa e tranquila, principalmente quando é uma mulher que estava sem parceiro e está feliz porque encontrou um cara a fim de ficar com ela. Tem gente que acha: "É um retrocesso, então a mulher tem que ser submissa". Mas essas mulheres que encontrei não são submissas, estão escolhendo ter uma relação com homens casados e querendo agradá-los porque querem esse homem. É uma escolha.

Donna - A senhora desmitifica no livro a imagem da amante como a "destruidora de lares".
Mirian - Sim, ela não é essa mulher que todo mundo diz, fatal, economicamente dependente, que está sugando o dinheiro dele. Encontrei mulheres comuns, que vivem com muito sofrimento o fato de não serem únicas e que têm a ilusão de que são únicas (no desejo do homem). E encontrei mulheres traindo muito longe do estereótipo de "Oh, está enganando o marido, como é canalha". E mostro também homens que não traem, homens que ficam sem saber o que fazer com essa nova mulher poderosa, homens que sofrem por uma traição ou por trair. O livro quebra muitos estereótipos não só da traição, mas do casamento. De certa forma, muitas vezes, os homens e as mulheres não são culpados pela traição. O casamento mudou, e as pessoas seguem pensando que permanece o mesmo.

Donna - À luz da traição, como repensar o casamento?
Mirian - As pessoas acreditam que o casamento pode ser aquela coisa segura, estável, mas não é mais isso. Depois do divórcio, da independência econômica da mulher, da igualdade maior de gênero e do comportamento sexual mais livre, as pessoas que se casam têm que prestar muita atenção: se é aquele parceiro que querem, têm que investir de outra forma. A traição tem um significado bem diferente de há 30 anos, quando não havia o divórcio, a mulher era dependente, e era legítimo o homem trair.

Donna - Que significado?
Mirian - Hoje, a traição tem um peso maior e destrói muito facilmente um casamento. A mulher, principalmente, como mostra a pesquisa, é a que menos aceita ser traída. A fidelidade passou a ser o valor maior do casamento. Por quê? As pessoas podem escolher mais e, quando escolhem, aquele parceiro tem a expectativa de ser único.

Donna - Justamente por haver mais liberdade de escolha, por que permanecer em uniões insatisfatórias em vez de se separar?
Mirian - Há o valor social de ter um casamento: você se sente mais poderosa tendo um marido do que sem. Há o medo da solidão: há um estigma quanto a ser sozinho no Brasil. E a ideia de família é ainda muito forte aqui, diferentemente de outras culturas. Mas, como mostra a pesquisa, a tendência é que se separem em uma traição.

HOMENS E MULHERES RESPONDEM
Por que eu traí?
Dois homens e duas mulheres contam os motivos que os levaram a ser infiéis

Coração disponível
Aposentada de 62 anos, casada há 40, mãe de dois filhos e avó de quatro netos
"A primeira vez que tive uma relação fora do casamento foi há quase 20 anos, e o motivo acredito que seja o mesmo para todas as mulheres, a carência afetiva. A gente não trai porque quer trair, porque quer se vingar, nada disso. É uma questão de disponibilidade do coração, no momento em que tu tens uma carência muito grande, tem a ver com a rotina, problemas, enfim...
E aí, às vezes, surge uma oportunidade. Não saí de casa à procura de alguém, foi uma coincidência. Começou como uma amizade no trabalho. Depois, não éramos mais colegas de trabalho e aí rolou. Acabou sendo um amor que durou mais de 10 anos. Fui muito cuidadosa e discreta: a preocupação é não expor a família e não fazer com que outros sofram. E era uma relação com um homem também casado, e isso facilita, por a gente viver a mesma situação, de não poder sair a toda hora, de ter compromissos familiares... Faz com que a relação possa perdurar. Acabou terminando, porque ele se separou e quis viver algo que eu não podia. Escolhi meu marido, porque temos raízes, uma história familiar, filhos. É difícil ter certeza de que com essa outra pessoa eu seria feliz. Preferi manter aquilo que já conheço.
Custei a esquecê-lo. Passou muito tempo, e encontrei uma outra pessoa no bairro onde moro, por meio de amigos comuns. Começou com uma amizade e, neste ano, de repente, o coração voltou a viver. É claro que a gente pensa muito se vale a pena, mas a mulher precisa de carinho sempre. E a convivência durante anos de casamento acaba com qualquer tipo de vida afetiva, ainda mais quando temos um parceiro que não acha importante cultivar a intimidade ou namorar para deixar a vida a dois mais apimentada. O coração fica disponível.
Esse outro homem também é casado e tenho com ele uma relação diferente da anterior: não há uma paixão. O que há, na minha idade, é se sentir desejada, admirada, ter algo que levante a autoestima e rejuvenesça. Volta a sensação de que alguém tem tesão por ti e volta o teu tesão também. Para outras pessoas nessa situação, diria que, se alguém está com uma carência muito grande, mas ainda tem uma vontade de viver, amor para dar... a vida é tão curta, se a oportunidade surge, por que não vivenciar?"

Um grande investimento
Publicitária, 37 anos, casada há 10 anos, mãe de uma menina
"Quando o relacionamento começou a ficar monótono, reencontrei um amigo de infância, e surgiu um encantamento, lembranças do passado. Houve a vontade de matar uma curiosidade de adolescente, de quando éramos namoradinhos.
Foi divertidíssimo. Para dizer a verdade, foi importante para minha vida e mudou até o relacionamento dentro da minha casa. Era uma aventura. A cada momento me lembrava dele, das investidas, do flerte, e comecei a sorrir de novo, o que me valorizou mais como pessoa e como mulher. Fui fazer ginástica, cuidar de mim.
A minha resposta para por que homens e mulheres traem é que a vida deve estar muito chata e tu queres dar um colorido. E isso, naquele momento, me deixou mais bonita e mais feliz. Com o meu marido, estava tudo acomodado, rotineiro. Faltava aquilo que tu encontras num amante: planejar o encontro, te enfeitar para a pessoa, o que não existia mais no casamento. Aquela coisa de passar o dia inteiro bonita para todo mundo e, quando o teu marido chega em casa, te encontra de pijama. E isso mudou muito. Meu marido me encontrou diferente, como uma pessoa que estava se valorizando, que sentia tesão, o que foi bom para meu casamento.
Não pude dar continuidade àquele relacionamento, ou teria me incomodado. Ele também era casado, e a gente acabaria se separando. E não era isso que eu queria nem ele. Amo meu marido. Mas esse cara ficou na minha vida, como um amigo. A gente se vê eventualmente, e daí dá um friozinho na barriga. Mas temos de fazer opções, não dá para ter tudo.
Foi algo que tinha de acontecer: como se fosse um grande investimento na minha vida. E agora estou em um momento bom e não sinto vontade de repetir a experiência. Mas, se sentir, não vou deixar de fazer. Não acho que seja proibido."

Insatisfação no casamento
Contador, 55 anos, casado há 25, pai de dois filhos
"Desde os primeiros anos de casamento, foram alguns casos. A relação não estava mais satisfatória, quando se espera uma maior atenção e não tem, o que leva a uma desesperança.
Muitas pessoas perguntam: então, por que não te separas? A resposta ouvi também de amigas que estão em uma situação difícil por décadas: há uma série de valores dentro de um casamento no papel... Envolve muita coisa. Nem digo a partilha de bens, mas a questão de o que a família vai pensar, os parentes tanto de um lado quanto de outro, os filhos, os amigos, o ambiente profissional... E um certo comodismo. Sempre tem algo de bom na relação, principalmente quando há filhos.
Os casos que tive são relações circunstanciais, e o que me trazem é principalmente o aspecto sexual. Logo no início do meu casamento, ela já não demonstrava interesse. Sempre procurei mais do que fui procurado, e isso acaba, com o tempo, cansando. Como um amigo disse, não dá para esmolar o amor. O sexo, realmente, não é tudo. Quando falta, mas há carinho, dedicação, tu sentes que a outra pessoa segue apaixonada, isso já satisfaz... Mas quando tudo começa a diminuir, quando uma parte procura e não obtém, vai procurar fora. Até hoje é assim, embora no meu casamento não haja brigas. Partilhamos as coisas boas e ruins, é uma relação estável. Ainda tenho tesão pela minha mulher, embora essa relação seja esporádica e muito mecânica.
Algumas vezes, me sinto culpado (por traí-la), mas não totalmente. Há momentos em que saio do trabalho e, o que seria o ideal? Querer chegar em casa logo, por estar morrendo de saudades da mulher, querer transar, criar um clima. E o que acontece, muitas vezes, é que nem tenho vontade de ir direto para casa. Penso: "Vou chegar lá e encontrar aquele clima frio, 'oi', 'oi', como se a gente tivesse se visto há 10 minutos". Não é o que eu gostaria que fosse. Queria aquilo que há alguns anos existiu."

Natureza do ser humano
Historiador, 30 anos, mora junto há cinco, pai de um menino
"Nunca fui fiel em nenhum relacionamento. Acho que trair não é da natureza do homem, e sim da natureza do ser humano. Viajo bastante e vejo muitas mulheres traírem também, assim como eu mesmo já fiquei em congressos com mulher casada.
Tive muitos casos (durante o relacionamento atual), mesmo no começo, quando a gente namorava. Até que me apaixonei por outra pessoa na faculdade. Tivemos um caso de praticamente um ano, e quase terminei meu relacionamento - minha mulher desconfia até hoje, mas sempre consegui negar. Não me separei porque nunca deixei de gostar dela.
Ainda na faculdade tive mais uma amante, há cerca de um ano. Nesse caso, havia duas ao mesmo tempo: acabei tendo a amante da amante, mas elas acabaram descobrindo uma da outra. Amante gosta de ser a única, e, quando não é, acaba não dando certo.
No momento, não tenho ninguém além da minha mulher, mas estou sempre conhecendo muita gente, me interesso em ficar com outras pessoas. Acho que é mais pelo ego, não sei explicar... Às vezes, o casamento parece meio parado, sem graça, daí tu acabas tendo um outro relacionamento e te sentes mais motivado. Aquele clima de ficar escondendo algo, de perigo, de risco, acho que preciso disso.
Mas acredito que meu casamento vá muito longe ainda, a menos que minha mulher descubra algo ou aconteça alguma coisa. Sou feliz com ela. Minha mulher sempre esteve em primeiro lugar, e isso nunca mudou."

Câmeras de segurança registram agressão a jovem em Passo Fundo

As ameaças começaram na escola, foram para a internet e acabaram em marcas no rosto de 16 anos.

- Tinha uma previsão de que isso pudesse acontecer, tanto que a gente fez o registro. Esperávamos que isso iria encerrar por ali - conta o menor agredido.

A agressão aconteceu a caminho da escola. O estudante estava sendo seguido por mais três adolescentes. Toda a violência foi registrada pelas câmeras de segurança de um prédio. Elas mostram quando o jovem para na rua e tenta pedir ajuda.

Outros três adolescentes o agridem a chutes e pontapés. O funcionário de uma obra interfere. Outra câmera registra a fuga dos agressores. Um deles, identificado como colega da vítima, foi expulso da escola.

- Como que um menino qualquer, um indivíduo qualquer, resolve agredir meu filho e está tudo assim? A princípio, está tudo bem. Não está tudo bem! - diz a mãe do menor, que não quis se identificar.

Segundo Ginez Campos, doutor em sociologia, que faz um trabalho de conscientização nas escolas de Passo Fundo, pelo menos 28% dos estudantes do país já sofreram algum tipo de ameaça.

- Eu creio na implantação de programas de combate ao bullying na escola. A ideia é justamente essa. Talvez seja uma forma de conscientizar pais, professores, funcionários, ou seja, a comunidade escolar, sobre essa problemática - disse o doutor.

O caso foi registrado na polícia, que investiga a agressão.
RBS TV

sábado, 14 de agosto de 2010

Apresentação de Seminários

PREPARANDO A APRESENTAÇÃO

Cuidados quanto ao planejamento

Interação em Psicologia, jan./jun. 2005, (9)1, p. 131-142
João dos Santos Carmo & Paulo Sérgio Teixeira do Prado

Toda exposição precisa ser elaborada previamente. Embora esta seja uma afirmação um tanto óbvia, não nos parece demasiado repetitivo ressaltar que um bom planejamento da apresentação possibilita um bom desempenho durante a sua realização.
Um bom planejamento requer a previsão e delineamento dos seguintes aspectos: definição dos objetivos a serem alcançados, delimitação do tema a ser abordado, seleção do conteúdo a ser apresentado, distribuição adequada do tempo, definição dos recursos audiovisuais a serem empregados. Além disso, o planejamento deverá ser feito com uma antecedência suficiente, que proporcione condições adequadas para seleção dos recursos, evitando dificuldades de última hora (sobre a seleção dos recursos falaremos mais adiante).
Uma recomendação para os expositores iniciantes é para que apresentem o planejamento para pessoas mais experientes a fim de receber sugestões relevantes. Vale lembrar, sem qualquer intenção de ser irônico, que o planejamento deve ser escrito e não simplesmente pensado ou guardado na memória. Guardar na memória pode ser uma armadilha, pois freqüente-mente nos esquecemos de alguns detalhes que podem ser determinantes na exposição. Por fim, devemos lembrar que, assim como planejamos nossas pesquisas, devemos também planejar sua apresentação.

As vantagens do ensaio

Concluído o planejamento, convém realizar alguns ensaios, isto é, simulações da apresentação. Elas funcionam como testes da adequação do planejamento e ajudam a evitar surpresas desagradáveis durante a exposição. Um bom ensaio pressupõe uma platéia seleta e atenta, disposta não somente a ouvir, mas também a colaborar através de sugestões, apreciações críticas, incentivos etc. Um primeiro ensaio permitirá a identificação de aspectos falhos a serem corrigidos, ao passo que os demais servirão para aprimorar ainda mais o trabalho.
Quantos ensaios? Não há um número padrão. Tudo parece sugerir que o acúmulo de experiência tende a deixar os indivíduos mais seguros e, portanto, com menor necessidade de ensaios. Por outro lado, os ensaios parecem auxiliar alguns indivíduos a adquirirem segurança. Outros, no entanto, preferem evitá-los por julgarem que eles geram mais ansiedade. De qualquer forma, a recomendação permanece válida tanto para os expositores mais experientes quanto para os iniciantes.

Uso adequado do tempo

A duração de uma apresentação deve seguir as normas previamente definidas para o evento. Infelizmente, às vezes presenciamos uma situação bastante constrangedora nas sessões de comunicação oral: alguns indivíduos extrapolam o tempo previsto e, com isso, prejudicam a exposição dos demais colegas. O último apresentador é, geralmente, o mais prejudicado, pois a audiência já está cansada, os colegas estão apressados, o coordenador da sessão está lutando contra o relógio devido às outras atividades que, possivelmente, ocorrerão no mesmo recinto.
É preciso, portanto, ter respeito aos colegas que ainda irão apresentar seus trabalhos e à platéia, que não compareceu para assistir somente à sua exposição. Pequenos atrasos são perfeitamente compreensíveis e perdoáveis, porém atrasos que extrapolam o aceitável
refletem, por um lado, falta de planejamento e desrespeito aos demais e, por outro, falta de organização e controle da coordenação.
O aproveitamento do tempo, conforme já abordado, deve ser previamente planejado. Nesse planejamento será necessário distribuir o tempo de maneira adequada, proporcionalmente ao grau de importância de cada elemento da exposição. Conforme vimos em parágrafos anteriores, uma comunicação oral de pesquisa em geral está dividida em introdução, metodologia, resultados, discussão e considerações finais.
Uma sugestão quanto à divisão proporcional do tempo seria: 10% para a introdução; 20% para a metodologia; 30% para os resultados; 30% para a discussão; 10% para as considerações finais. Evidentemente esta divisão é, conforme salientamos, apenas sugestiva e, de modo algum, deverá ser entendida como uma regra a ser seguida às cegas. Cada apresentação tem suas nuances, suas características a serem ponderadas e consideradas no momento do planejamento.
Por um outro lado, temos comunicações orais de pesquisas teóricas. A divisão proporcional do tempo, neste caso, obedecerá ao esquema clássico de introdução, desenvolvimento e conclusão. Como as apresentações de pesquisas teóricas não seguem o mesmo padrão das pesquisas empíricas, cabe ao expositor dividir o tempo conforme suas necessidades e tendo em vista os objetivos de seu estudo.

Uso adequado de recursos didáticos e equipamentos

Afirmamos que o recurso predominante na exposição oral é o corpo do apresentador. Sua presença deve ser discreta, isto é, a gesticulação não deve ser exagerada de forma a direcionar a atenção da audiência mais para a teatralidade do expositor do que para o conteúdo da exposição. Da mesma forma, sua postura física não deve oferecer motivos para comentários jocosos. O olhar deverá ser direcionado ao público, não se prendendo em uma só pessoa, ao contrário, deverá percorrer toda a platéia. Este ponto merece atenção especial, pois o direcionamento consciente do Apresentação de trabalho em eventos científicos olhar é bem mais difícil do que possa parecer. Basta uma sinalização qualquer, mesmo que sutil, como um meneio com a cabeça de um membro da platéia, para fazer que o olhar do apresentador fixe-se proporcionalmente por mais tempo naquela direção.
A altura da voz deverá ser adequada às dimensões do ambiente, o número de pessoas na audiência e a acústica do recinto. Procure informar-se sobre técnicas de uso da voz e outros recursos para obter os máximos resultados desse nosso precioso instrumento e preservação da saúde vocal. Os fonoaudiólogos têm dicas bastante simples, mas muito úteis e eficazes.
Recursos visuais. É bastante comum, e até esperado, que o expositor utilize recursos visuais e/ou audiovisuais para facilitar sua comunicação com o público. Dentre os recursos mais utilizados temos: retroprojetor, projetor de slides (atualmente em desuso), videocassete, DVD, projetor multimídia (datashow). Não é nossa intenção tratar detalhadamente qualquer um destes recursos em particular. Antes, preferimos destacar alguns aspectos relacionados ao seu uso. Assim, o expositor deve estar familiarizado com a operação do equipamento que terá à sua disposição.
Muitos de nós já assistimos a situações constrangedoras e, ao mesmo tempo cômicas, quando um determinado apresentador liga o retroprojetor e a imagem é projetada de ponta cabeça, espelhada, ou não enquadrada na tela; ou quando o expositor retrocede os slides ao invés de avançá-los; ou ainda, quando o expositor sequer sabe o que fazer com o videocassete ou com o datashow. Evidentemente, ninguém nasce sabendo operar esses recursos e não há nenhum demérito em perguntar como devem ser usados. O problema está em deixar isso para o momento da apresentação, pois corre-se o risco de não receber a ajuda esperada. Mais uma vez, portanto, ressaltamos a necessidade do planejamento e do ensaio como atividades que ampliam nossas possibilidades de êxito durante as apresentações.
Por um outro lado, precisamos ter o cuidado de não apresentarmos uma quantidade excessiva de informações numa mesma tela. Use o mínimo possível de informações escritas a fim de não criar uma espécie de concorrência entre sua fala e o que é projetado. O conteúdo da projeção deve ser um auxiliar, não um concorrente da exposição, um apoio visual ao que se está expondo.
Outro problema, encontrado freqüentemente, diz respeito à sincronia entre a fala do expositor e o conteúdo da tela. Algumas vezes projetam-se informações que não se relacionam ao que está sendo exposto, seja porque o expositor simplesmente esqueceu do recurso visual, seja porque não foi projetada a informação adequada no momento preciso. Possivelmente, este problema decorre de uma falta de planejamento adequado, da inabilidade do expositor, ou em razão de o aparelho estar sendo operado por outra pessoa, sem que tenha havido um acerto prévio entre expositor e operador acerca dos detalhes da apresentação. Mas não vá para o extremo oposto de simplesmente ler o que está escrito na sua projeção. Este é outro mau uso dos recursos. A audiência sabe ler, e muito bem. Ler o que está sendo projetado, além de tornar a apresentação cansativa, chata mesmo, subestima as pessoas que a estão assistindo.
Por mais clara que seja a exposição, a compreensão do ouvinte pode não corresponder exatamente àquilo que você quis dizer. Isso é perfeitamente natural e até esperado. Portanto, lembre-se: clareza nunca é demais. Por isso, ao preparar sua apresentação, tente colocar-se na perspectiva do ouvinte. Isso poderá ajudá-lo a prever possíveis dúvidas e má compreensão e, por conseguinte, também a dar à sua apresentação uma maior clareza.
Ao preparar suas projeções (transparências, slides, apresentações em datashow etc.), leve em conta as dimensões e as condições de iluminação do ambiente onde será feita a apresentação. Isso o ajudará a decidir-se sobre detalhes tais como o tamanho das letras e
figuras e sobre as cores a serem utilizadas. Como nem sempre é possível obter-se essas informações com antecedência, vamos apresentar algumas sugestões gerais.
Já dissemos que uma projeção não deve conter uma quantidade excessiva de informações. Isso obviamente o obrigaria a “espremê-las” num espaço reduzido, usando letras em tamanho pequeno, o que dificultaria a decodificação e a compreensão das informações. Opte por letras grandes, por exemplo: Times New Roman tamanho 48 para títulos e 32 para textos. Quanto ao uso das cores, o máximo contraste possível é o preto sobre fundo branco. Mas se você preferir valorizar esteticamente sua apresentação
usando cores, opte por usar cores claras para o segundo plano e escuras para o primeiro. Só faça o inverso se você tiver certeza de que a iluminação do ambiente pode ser reduzida a um nível próximo da ausência total de luz.
Não abuse de recursos gráficos como variação em demasia de tipos de letras e outros elementos como efeitos 3D, sombreamento, setas, formas geométricas
etc. Use esses recursos com parcimônia e opte sempre pela simplicidade e o bom senso. Tente adotar um padrão. Isto é, use um mesmo tipo de letra em todas as telas. Você poderá adotar uma formatação especial para títulos, outra para subtítulos e uma terceira para o texto propriamente dito. Adote um padrão também para diagramas, setas, conectores e outros recursos gráficos. Sempre que possível, use a simetria (horizontal e vertical). Evite figuras assimétricas e linhas que se cruzam. Ao usar gráficos, como histogramas por exemplo, lembre-se que o efeito tridimensional pode conferir-lhes uma aparência atraente, mas a leitura é bem mais fácil sem esse efeito. Seja como for, tenha por princípio que se por um lado, uma apresentação mal cuidada expressa desleixo e pode comprometer a qualidade do conteúdo da apresentação, por outro, a estética perfeita não compensará um trabalho ruim.
Algumas recomendações adicionais. Recomendamos a chegada ao local da apresentação com alguma antecedência e uma checagem geral das condições. Isso inclui um teste. Ele permitirá verificar o funcionamento do equipamento e também se não há problemas decorrentes do uso de versões diferentes de um mesmo programa de computador, caso haja um disponível. E ainda, a depender das características do equipamento, ele pode não projetar sua apresentação exatamente como você a preparou. Em qualquer dos casos, as alternativas são: fazer as adequações necessárias ou ter à mão uma cópia da apresentação em transparências. A primeira delas não é fácil de ser implementada, pois você poderá não dispor de tempo suficiente e/ou equipamento necessário. Quanto à segunda, é a mais recomendável, mas certifique-se de haver retroprojetor disponível.
O uso de apontadores. Não fique de costas para a audiência. Não é de bom tom dar as costas para alguém. Mas, além das boas maneiras, há uma razão funcional para não fazer isso. Se você não estiver usando um microfone, falar de costas para a audiência dificultará a audição. Por isso, se você estiver usando um retroprojetor, lembre-se de que você pode apontar detalhes da projeção sobre a própria lente do aparelho. A sombra do objeto usado será projetada na tela e você poderá permanecer de frente para o público.
Se a projeção estiver sendo feita através de outro recurso, você poderá usar como apontador uma haste suficientemente longa (atualmente em desuso) ou um apontador a laser. Em qualquer caso, evite dar as costas para a platéia. Fique de perfil. E lembre-se, se usar apontador a laser, faça movimentos lentos, procurando fixar o facho de luz no ponto da tela a ser destacado. Movimentos rápidos e/ou confusos confundem as pessoas que o estão assistindo. Elas tentarão acompanhar o ponto luminoso, desviando a atenção da fala do expositor e sem se fixar na projeção.
Notou a importância de levar o planejamento a sério? Isso inclui informar-se sobre os recursos disponíveis e se haverá ou não o apoio de pessoas designadas para operá-los. Nem todos os eventos contam com recursos sofisticados. Ainda é comum que em algumas situações só se disponha do retroprojetor. Se você não estiver bem informado, correrá o sério risco de perder um tempo precioso preparando sua apresentação no computador, gravando-a em uma mídia qualquer e depois não ter como usá-la. Isso é um desastre! Portanto, por via das dúvidas, prepare e leve com você transparências com o mesmo conteúdo do disquete, CD etc. E se houver alguém para auxiliá-lo na apresentação – seja um voluntário ou um profissional contratado – combine com ele os detalhes que forem importantes para o seu caso: o arquivo (ou arquivos) que você usará (caso disponha de um microcomputador), a ordem de apresentação das telas e/ou transparências etc. E na hipótese de haver um microcomputador disponível, é recomendável que você copie seus arquivos no disco rígido, pois isso permitirá ao equipamento funcionar com sua velocidade máxima, agilizando a apresentação e evitando alguns riscos comuns que se corre quando se usa equipamento desse tipo.
O uso do microfone. A maioria das pessoas, quando usa um microfone pela primeira vez, fica mais ou menos embaraçada e acaba fazendo algum comentário quanto à sua própria inabilidade ou pouca familiaridade com ele, desculpando-se. Isto é dispensável, toma tempo e pode ser evitado com uma boa simulação, como já sugerimos. Eis mais algumas dicas simples e úteis. Segure o microfone a uns 15 cm à frente da boca e com uma inclinação de aproximadamente 45º. Fale usando um tom natural. Não eleve o tom da sua voz, pois o microfone a amplificará por você. Esta é exatamente a função dele. Mas também não fale baixo demais, pois assim nem o próprio microfone terá como captar a sua voz para poder amplificá-la e ninguém o ouvirá com clareza.
Qualquer som ou ruído emitido pelo seu próprio corpo que não fizer parte da apresentação, deverá ser feito “fora” do microfone. Por exemplo, se houver alguém auxiliando-o com as projeções e essa pessoa estiver próximo a você, ao pedir para ela avançar a projeção, faça-o com o microfone afastado da boca. Afaste-o também se for inevitável tossir, espirrar, pigarrear etc.
Roteiro da exposição. Por fim, gostaríamos de ressaltar um recurso importante, mas freqüentemente negligenciado: uma folha de papel com o roteiro da apresentação em mãos. Dispor de anotações sobre a seqüência da apresentação ou o conteúdo da mesma poderá auxiliar o apresentador durante situações delicadas, como o esquecimento de informações ou dificuldades no seguimento dos passos da apresentação. Uma breve pausa para consultar as anotações já salvou muitas apresentações. Imprima um roteiro com os pontos principais do que vai apresentar. E use letras grandes para facilitar a leitura a uma certa distância, de modo que você não precise ficar a todo momento aproximando o papel dos olhos.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Degradação marca condições de trabalho dos "infoproletários"

O setor informacional – que inclui amplos segmentos caracterizados pelo uso intensivo de novas tecnologias, como as telecomunicações e a informática – é considerado um dos mais dinâmicos e arrojados da economia contemporânea. No entanto, as condições de trabalho encontradas nessas áreas podem ser tão precárias como as dos operários do século 19.

Esse é o mote do livro Infoproletários – Degradação real do trabalho virtual, que traz ensaios de 11 autores brasileiros e estrangeiros, com base em pesquisas científicas sobre aspectos diversos do trabalho no setor informacional que compõe a nova morfologia do trabalho no Brasil.

A obra foi organizada por Ricardo Antunes, professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e por Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP (Cenendic). Vários dos autores tiveram apoio de Bolsas da FAPESP para a realização dos estudos apresentados no livro.

“O livro é uma coletânea que procura recolher o que encontramos de mais qualificado na pesquisa científica feita hoje no Brasil sobre o que chamamos de proletariado do setor informacional. Além disso, traz duas contribuições de autores internacionais”, disse Antunes à Agência FAPESP.

Além de pesquisadores de várias instituições brasileiras, o livro traz as contribuições de Ursula Huws, da Universidade de Londres (Inglaterra), e Juan José Castillo, da Universidade Complutense de Madri (Espanha). O sociólogo britânico Michael Burawoy é o autor da nota de apresentação da obra.

Segundo Antunes, o objetivo do livro é contribuir para a compreensão da realidade dos trabalhadores que atuam em relação estreita com as tecnologias da informação, designados como “infoproletariado”, ou “cyberproletariado”.

“Há um mito de que os melhores empregos do mundo estão nessas áreas, que, por terem alta demanda, ofereceriam grandes oportunidades e autonomia. Mas, quando fazemos uma análise científica, vemos que as condições concretas mostram um quadro muito diferente, marcado por uma profunda alienação do trabalho”, disse.

Antunes afirma que o infoproletariado convive com uma dualidade: os trabalhadores lidam com uma tecnologia avançada, mas vivenciam muitas vezes condições de trabalho precárias, típicas das primeiras fases do capitalismo, com jornadas extenuantes e ausência de direitos elementares.

Nos critérios utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor informacional se divide em atividades como telecomunicações, informática, edição de programas, processamento de dados, atividades de bancos de dados, produção, distribuição e projeção de filmes, rádio e televisão e atividades de agências de notícias.

Antunes explica que o setor se caracteriza por uma polarização. Em um dos extremos estão os trabalhadores que atuam no desenvolvimento de softwares. No polo oposto, estão os operadores de telemarketing.

“Os programadores de software são vistos como uma elite do cibertrabalho, desfrutando de alguns privilégios, como uma suposta autonomia. Ainda assim, nesse segmento as condições de trabalho são muito intensificadas e o profissional é sobrecarregado por uma pesada cobrança. A individualização sufocante e a responsabilização desse trabalhador têm sido responsáveis por suicídios em vários países do mundo”, apontou.

No caso do telemarketing, que se encontra na base da hierarquia do cibertrabalho, as condições de trabalho são ainda mais exasperantes, segundo Antunes. “Há um controle muito rígido do fluxo de trabalho, imposto pela regulação rigorosa do tempo médio de atendimento. A individualização é reforçada pela segregação espacial em baias, que restringem o contato com os colegas. E o tempo destinado para alimentação e uso do banheiro é limitadíssimo”, disse.

Segundo Antunes, os estudos mostram que o segmento do telemarketing tem forte contingente de mulheres – cerca de 70% do total – e jovens. O setor, que não para de crescer, já tem quase 1 milhão de trabalhadores.

“Nossas pesquisas constataram, de forma abundante, que muitos jovens encontram nos call centers seu primeiro emprego, com a ilusão de que encontrarão ali condições de trabalho adequadas. Mas, depois de alguns meses, o maior sonho desses trabalhadores é abandonar o telemarketing”, afirmou.

Home office

No setor informacional, de forma geral os trabalhadores sofrem intensivamente com o enxugamento dos postos de trabalho, com demissões frequentemente decorrentes de processos de privatização, segundo Antunes. Outro fator que gera sofrimento intenso é a responsabilização de competências.

“Frequentemente, o trabalhador é elogiado quando realiza o trabalho padrão e ridicularizado quando sua faixa de produtividade fica abaixo da média. Nos postos de gestão, mais altos nas hierarquias, os trabalhadores são culpabilizados quando os projetos fracassam. Muitos não suportam esse fracasso coletivamente publicizado”, disse.

A individualização e o isolamento do infoproletário também se combinariam à precarização das condições de trabalho. “Houve uma quebra da noção de trabalho coletivo, rompendo uma série de laços sociais. Muitos trabalhadores já não têm postos de trabalho fixos dentro da empresa e outros – especialmente na área de tecnologia da informação – trabalham em seu espaço doméstico”, afirmou.

Trabalhar em casa, segundo Antunes, pode ter aspectos positivos, como uma relativa liberdade. Mas a autonomia para gerenciar a jornada de trabalho pode se transformar em uma intensidade de trabalho maior.

“Esse trabalhador é isolado do resto do mundo. Além disso, um adoecimento nesse tipo de trabalho é frequentemente desprovido da segurança previdenciária e de saúde que a empresa é obrigada a assumir se o empregado estiver trabalhando in loco”, destacou.

Os setores informacionais, no entanto, são heterogêneos, segundo Antunes. Há empresas que disponibilizam os direitos sociais garantidos para o conjunto dos trabalhadores.

“Mas há também o trabalhador conhecido como ‘pessoa jurídica’, que é o empresário explorador de si mesmo. Desprovido de direitos, pode ser demitido por meio de um simples encerramento de contrato. Essa modalidade de trabalho é muito frequente nos setores de mídia e comunicação”, disse.

Fonte: Agência Fapesp

Norma Valêncio: "Falta seriedade e transparência ao gestor brasileiro"

As tragédias ocorridas na virada de 2010 em cidades como Angra dos Reis (RJ) e São Luiz do Paraitinga (SP) colocaram em xeque, mais uma vez, os trabalhos dos governos federal, estaduais e municipais no que diz respeito à prevenção de desastres. Construções em áreas de proteção, ausência de um sistema de alerta e a precariedade do atendimento às populações atingidas deixaram claro que o Brasil precisa repensar suas estratégias para evitar a repetição dos desastres.

No livro Sociologia dos Desastres: construção, interfaces e perspectivas no Brasil, lançado no fim de janeiro pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (Neped) do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), os pesquisadores debatem as causas dessa rotina de desastres e concluem que, na origem das tragédias, está a falta de uma cultura de prevenção e proteção civil.

Nesta entrevista a ÉPOCA, Norma Valêncio, coordenadora do Neped, critica a falta de seriedade e transparência dos governantes brasileiros e explica o que impede, até hoje, que o país tenha um serviço de Defesa Civil capaz de envolver todos os setores da sociedade e efetivamente defender a população civil.
ÉPOCA – Um levantamento da ONG Contas Abertas mostrou que, em 2009, o governo federal gastou dez vezes mais com reparos de desastres do que com a prevenção deles. Esse tipo de dado é um padrão no Brasil. Qual é a origem desse fenômeno?
Norma Valêncio – Há muitas origens. Duas delas, aparentemente ambíguas, são: a cultura acadêmica verticalizada e a cultura política reativa e conservadora. A cultura acadêmica que valoriza a verticalização da formação profissional gera especialistas excelentes, mas pouco predispostos a compartilhar visões de mundo com sujeitos diferentes de si. Por conta da falta de diálogo, esses profissionais e as instituições em que trabalham atuam minimizando os riscos sabidos mas não se apercebendo de outros. A recorrência de desastres, assim, é a materialização dessas lacunas. De outra parte, temos uma cultura político-institucional cuja burocratização instituiu o gosto pela manutenção das relações com certos grupos de poder. Se há um lobby que força investimentos no setor da construção civil, associado a profissionais empenhados em fazer ajustes a tais interesses, o gestor público se acomoda e perde a dimensão global dos efeitos cumulativos dessas intervenções. A setorialização leva um grupo a cuidar da insuficiência da calha do rio para receber as águas pluviais enquanto o outro está construindo novas pistas marginais. Sendo conservador, o gestor testemunha estupefato o desastre e, infelizmente, recorre aos mesmos setores e especialidades para achar soluções, o que faz o desastre persistir, ainda que em nova roupagem.

ÉPOCA – Alguns municípios são atingidos mais ou menos da mesma forma e nos mesmos locais ano após ano. Se os desastres são motivo de desgaste político, por que muitos governantes não agem para controlar ou resolver os problemas?
Norma – Nem sempre o desastre só traz desgaste político. Isso depende muito de qual ética ancora o gestor. Em primeiro lugar, a ocorrência de desastres implica a possibilidade de captação de recursos públicos adicionais e, ainda, de doações privadas, para mitigar danos e para a reconstrução. Pode ser um bom negócio tanto para ofertadores de produtos e serviços ao município, quanto para políticos que querem alavancar sua imagem com a adoção de medidas assistencialistas. Claro que há os que se exasperam, sofrendo junto com a população afetada, mas que não conseguem acionar estratégias, recursos e equipes que lhes ofereçam um plano de reconstrução alternativo, que reduza a vulnerabilidade socioambiental. Nas campanhas políticas que vem por aí, não dá pra jogar o desastre na cara do adversário, porque regiões desenvolvidas e atrasadas, das múltiplas colorações partidárias, são acometidas do mesmo mal. É uma questão que interfere no planejamento de Estado e assim deveria ser tratada.

ÉPOCA – O livro debate a relação entre desigualdade social e exposição ao risco de desastres. Como se dá esta relação?
Norma – O Brasil naturalizou as desigualdades distributivas que se manifestam, entre outros, nos processos de territorialização precários no campo e na cidade. Por trás da moradia frágil que, inserida nas bordas periféricas, sofre o impacto da enchente ou do deslizamento, há o sujeito oculto do Estado, que não levou a infraestrutura e equipamentos públicos essenciais, não levou educação de qualidade, não levou saúde, não levou segurança pública até ali. Essa falta de assistência fica também expressa quando as medidas atendimento às famílias afetadas inexistem ou são indignas. Chamar de desastre o barraco que despenca do morro e isso motivar, apenas, a melhoria do sistema de alerta para as chuvas é complicado para nós, cientistas sociais. Deveria haver prioridade na leitura das informações dos "sistemas de alerta" para a condição social desastrosa daquele sujeito ou região, e isso mobilizar o ente público, independente das condições do tempo.

Nas campanhas políticas que vem por aí, não dá pra jogar o desastre na cara do adversário, porque regiões desenvolvidas e atrasadas, das múltiplas colorações partidárias, são acometidas do mesmo mal

ÉPOCA – O livro rebate uma percepção difundida até por algumas autoridades de que a "culpa" dos desastres é dos moradores de áreas irregulares. Ainda que hoje esteja claro que a ausência do poder público é o fator preponderante, que papel tem a educação na prevenção de desastres?
Norma – Depende muito do que se vai chamar de processo educativo, pois, do meu ponto de vista, são as populações desassistidas que precisam se organizar para ensinar os gestores, os peritos e a sociedade em geral, a partir e seu conhecimento empírico, forjado a muito sofrimento, o que é barbárie e apontar os caminhos para a integração social, com base na cidadania. O ente público e os grupos que estes apoiam, no geral, calcam sua afirmação no mundo contestando o ponto de vista daqueles a quem as políticas não alcançam ou alcançam de forma desfavorável. Vejo com preocupação as práticas de silenciamento dos empobrecidos, como através de ações de conscientização da população, como se “matar um leão por dia” não exigisse muita consciência sobre o que é a realidade social vivida. Conscientização é o que devemos ter nós, os incluídos, ao ver os corpos cobertos de feridas dos moradores do Jardim Romano e do Jardim Pantanal [bairros de São Paulo] que estão há semanas vivendo sob águas fétidas e contaminadas na região mais rica do país.

Exportação de jogadores brasileiros motiva Pós-Doutorado na Escócia

A exportação de craques do futebol é um fenômeno lucrativo, muito popular mas pouco estudado. Só no ano passado 822 jogadores brasileiros foram transferidos para clubes estrangeiros em operações geradoras de divisas e impasses sobre imigração, ainda não investigados pelo campo da chamada "sociologia do esporte". Priscila Mendes da Silva Cardoso, 20 anos, bolsista de Iniciação Científica da Faperj desde dezembro de 2006 e aluna de Educação Física no 7º período da Unisuam (Centro Universitário Augusto Motta), move-se nessa grande área com rapidez e desenvoltura.

Ela está sob orientação de Carlos Henrique de Vasconcelos Ribeiro, coordenador técnico de Educação Física da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro), doutor em Educação Física e Cultura pela Universidade Gama Filho e Universidade de Stirling, Escócia, onde completou uma bolsa-sanduíche. Lá Carlos Henrique também pretende fazer seu pós-doutorado sobre Esporte e imigração. Enquanto isso, ele treina as habilidades de sua aluna em reunião, tratamento e compilação de dados para essa nova empreitada acadêmica.

"Essa pesquisa é um braço do pós-doutorado, chamada Do Brasil para o mundo - o processo de transferência dos jogadores de futebol", esclarece Carlos Henrique Ribeiro. Autor do livro Mais que pendurar as chuteiras - o futebol que insiste no social (Nipress, Rio, 2005), professor adjunto das faculdades Maria Thereza e Unisuam, ele pesquisa mecanismos e conseqüências dessa intensa exportação de músculos e ossos, materializada em craques que vendem habilidades nacionais, como os dribles e a ginga do nosso "futebol-arte" em 72 países, nos cinco continentes.

É o caso de Afonso Alves, atacante do Heerenveen, na Holanda, recém-convocado pelo técnico Dunga para a Seleção brasileira. Mineiro de Belo Horizonte, 26 anos, Afonso foi eleito jogador do ano na Holanda, concorre à Chuteira de Ouro da Uefa. Jogou nos times suecos Örgryte, de Gotemburgo, e Malmö, equipe da cidade de mesmo nome no sul do país. "Ele saiu daqui muito novo, jogava em um time pequeno, teve proposta do Juventus, mas não aceitou. Hoje, o passe dele está umas 10 vezes mais valorizado. Esses craques são artigo de exportação, mas às vezes nem são conhecidos no Brasil", avalia Priscila.

Ela mostra que Portugal desde 2002 lidera o ranking dos países que mais recebem craques brasileiros, a uma média de 140 jogadores por ano. "Isso representa 35% das transferências. Itália, França, Alemanha, Japão e Espanha seguem Portugal nesse ranking, e as transferências têm aumentado muito. Só no Japão esse ano foram 49 até maio", conta a bolsista.

Seu orientador lembra que isso tem um impacto econômico: "Assim como os imigrantes mexicanos, esses jogadores mandam dólares e euros para o Brasil, passam a ser uma fonte de receita considerável", sugere, explicando que são várias as categorias de jogadores nesse trânsito: "Temos diversos níveis de futebol: na Espanha, está hoje o melhor de nossos jogadores, é onde estão as estrelas mundiais. A China está tentando popularizar o esporte, contratando jogadores brasileiros", considera.

"Por ano, temos 822 atletas transferidos na categoria profissional, fora os "de base" - aqueles com menos idade, que estão nos Centros de Treinamento brasileiros e continuam nos Centros de Treinamento de outro país. No caso de menores de 16 anos, a lei proíbe certos acordos. Entre 14 e 17 anos, os atletas que vão para o exterior têm que ser acompanhados pela família, que também precisa ter trabalho garantido, entre outras exigências contratuais", explica a jovem pesquisadora, sublinhando que Afonso já superou as marcas de gols de Ronaldinho e Ronaldo.

Imigração, incorporação cultural e adaptação - Segundo Carlos Henrique Ribeiro, matérias em grandes jornais também comprovam que cada vez mais brasileiros despontam no futebol europeu e cada vez mais jogadores são importados pelos clubes estrangeiros. "Com isso, em apenas um mês os jogadores conseguem o certificado nacional de transferência e o visto. Já começam a agilizar o processo quando agência qualifica. Esses adolescentes ficam horas treinando, são mão-de-obra qualificada. O movimento acontece também no futsal para a Espanha e no basquete para os Estados Unidos", lembra o professor.

"Eles são o Brasil no futebol, mas estão no estrangeiro por opção. Nascer no Brasil faz com que eles tenham uma marca, um brand particular nesse esporte", analisa Carlos Henrique, que assina artigos acadêmicos que exploram questões como a identidade de craques brasileiros atuando em outras seleções nacionais como Guimarães (Costa Rica), Deco (Portugal), Kuranyi e Paulo Rink (Alemanha), Alex, Roberto, Kazu e Wagner (Japão) e Oliveira (Bélgica).

"Apesar desses jogadores serem pouco conhecidos no Brasil, muitas vezes eles salvaram suas novas seleções da derrota, são como heróis que ajudaram a conquistar um título importante. Também é comum vermos a mídia nacional chamá-los de brasileiros, apesar de estarem atuando em seleções estrangeiras, em outros países, onde estão envolvidos com aspectos simbólicos, tais como a camisa, o hino nacional e os torcedores", questiona o professor Carlos Henrique em seu artigo Jogadores brasileiros em seleções do estrangeiro: a qual nação eles pertencem?.

Nesse trabalho, ele considera o exemplo de Kuranyi, jogador da Seleção alemã de futebol, que morou no Brasil até os 15 anos de idade: "(...) significativo para a problematização de nossa pesquisa. Ao marcar um gol pela seleção da Alemanha ele não comemorou e sua resposta para tal fato foi '...eu ainda respeito e amo o Brasil, por isso não podia comemorar'", explica o pesquisador.

Mas essa rota de ida tem volta? Muitos retornam por motivos simples: "Quem volta é porque não se adaptou devido a razões diversas como a cultura, a língua, o frio, a religião. Em 2006, 50% desses 882 que foram transferidos voltaram para o Brasil. Vamos fazer entrevistas previstas no projeto para identificar com precisão as razões desse retorno", diz o professor.

E de onde vêm esses atletas? Segundo o levantamento dessa pesquisa, a maioria dos jogadores é de São Paulo (246 transferidos); seguido pelo Rio de Janeiro (85 transferidos); Rio Grande do Sul, com 79 registros, e Paraná, com 75 exportados. Mas São Paulo também é campeão de voltas. "Teve um retorno de 105 em um ano em que 248 foram transferidos, ou seja, 30% do total", aponta Priscila. Ela lembra que muitos clubes brasileiros recontratam esses atletas que retornam.

Com esse universo, temos a indústria do esporte como a quarta na pauta de exportações do país. "Só de transferências, as vendas de jogadores geraram U$ 1 bilhão entre 1994 e 2005. Antigamente, os grandes clubes eram os celeiros. Hoje, temos os clubes de empresários. Antigamente, os empresários visitavam os clubes e faziam uma porcentagem de contrato para o clube. Agora, os empresários do mundo do futebol abriram seus próprios clubes", diz o professor Carlos Henrique.

Segundo ele, hoje, os empresários só agenciam e Fifa faz a transferência: "Os clubes de empresários são quase desconhecidos, não se ouve falar, mas exportam jogadores. Alguns deles são o CFZ, do Zico; o Barra da Tijuca Futebol Clube, ou o Clube Boa Vista. A intenção deles é criar talentos e vendê-los. Esses clubes tendem a crescer. Porque no site da FIFA estão listados cada vez mais clubes desse tipo. Cai um menino bom na mão deles, o menino vai para o Flamengo, Vasco, ou depois para um clube europeu. Em toda transferência, o clube tem um ganho de 5%", explica o professor, mostrando que quem transfere está num grande business, e o clube justifica seus ganhos contínuos porque investiu na formação de um profissional qualificado e o exporta.

Em outro exemplo dessas transações, cita-se Zé Roberto, da Seleção brasileira, que jogava na Alemanha e agora está no Santos. "O time brasileiro recontrata, ou contrata em outro patamar, o jogador que está lá fora. Nesse trânsito, geram-se as grandes oportunidades e transações do futebol exportação", exemplifica o professor. Ele lembra que a aluna Priscila produz artigos acadêmicos indexados para pares acadêmicos.

A vigência da bolsa de Iniciação Científica da aluna é de 12 meses, mas pode ter renovação de mais 12 meses. Mas por que uma lourinha delicada como Priscila está dedicada aos dados e números das batalhas desses heróis internacionais do gramado? Ela disfarça, mas seu mentor acadêmico entrega: "O noivo foi ex-jogador do São Cristóvão, jogou com Ronaldo, jogou futsal e futebol de campo". Com certeza, um pontapé inicial na grande área da sociologia do esporte para quem está se especializando nas tramas do futebol exportação. | Foto: Zé Roberto jogou na Alemanha, defendeu o Brasil no Mundial de 2006 e retornou ao país jogando no Santos | Por: Mônica Maia/Faperj