sábado, 31 de julho de 2010

Sociólogo Gilberto Freyre abre o livro de sua vida

Cristie Buchdid
Do Diário do Grande ABC

A sinceridade na revelação de cada momento difícil, de preocupações, de suas dores e amores, constrói ambiente íntimo entre o leitor e o autor, Gilberto Freyre (1900 - 1987), em sua obra autobiográfica De Menino a Homem - De Mais de Trinta e de Quarenta, de Sessenta e Mais Anos (Global, 256 págs., R$ 59).

Nos relatos, muitos deles em primeira pessoa, tem-se a impressão de que o ícone da sociologia que dedicou a vida a entender o que era o Brasil mantém conversa confidencial com o leitor.

Os manuscritos localizados no Centro de Documentação da Fundação Gilberto Freyre, em Recife, cidade onde nasceu e morreu, oferecem reflexão intimista de sua vida pessoal, acadêmica e política nas décadas de 1930 a 1980. Pode ser considerado continuação de Tempo Morto e Outros Tempos, diário publicado em 1975 que conta sua adolescência e primeira fase da vida adulta, de 1915 a 1930.

Boa parte da obra De Menino a Homem é dedicada aos anos 1930, década que começou com um ‘golpe'' para o clã Freyre. "A Revolução de 1930 alterou o cenário político em Pernambuco. Acusado pela Aliança Liberal de envolvimento no assassinato de João Pessoa (...), o governador Estácio Coimbra foi forçado a exilar-se na Europa. Gilberto Freyre, que desde 1927 assumira o cargo de oficial de gabinete de Estácio Coimbra, seguiu com ele num navio para Lisboa", cita o historiador Gustavo Henrique Tuna em nota no livro. No mesmo 1930, a casa dos pais de Freyre, no Recife, foi assaltada e queimada por integrantes da Aliança. No exílio amargo, conheceu até mesmo a fome.

O recomeço de vida veio com o convite inesperado para ser professor na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. "Minha recuperação pessoal tendo começado no estrangeiro em 31 - em Stanford - veio confirmar-se dez anos depois, com o casamento com Magdalena (Guedes Pereira)", cita o autor, que após a união aumentou a atividade intelectual e acentuou contatos internacionais. Outro momento marcante bem abordado é o lançamento de sua obra-mestra Casa-Grande & Senzala. Seu êxito imediato surpreendeu o autor, que às vezes distancia-se das histórias, relatando conquistas em terceira pessoa, como se buscasse tom humilde.

De Menino a Homem também traz caderno iconográfico em estilo álbum de família e anexos com artigos de Freyre publicados em jornais, revistas e outros livros.

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