sábado, 31 de julho de 2010

Chacina de Acari prescreve neste domingo, após 20 anos

Publicada em 24/07/2010 às 23h10m Gustavo Goulart
Números inéditos que estão sendo usados numa tese de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelam que, de 1991 até maio deste ano, 75.183 pessoas desapareceram no estado. Fábio Araújo, mestre em sociologia e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, sustenta que, desse total, cerca de 10% (7.518 pessoas) foram vítimas de homicídios. Em sua pesquisa, iniciada em 2008, Araújo mostra o perfil dos desaparecidos e se debruça num caso rumoroso, a chamada Chacina de Acari, que completará 20 anos nesta segunda-feira e prescreverá.
Vítimas são homens jovens, moradores de favelas

A série histórica de desaparecidos foi elaborada pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) e mostra variações para mais e para menos ao longo dos anos. Com base nos dados, Araújo elabora um ensaio etnográfico dos desaparecidos.

- Geralmente, são homens, jovens, na faixa etária de 18 a 24 anos, e moradores de favelas. Os autores são policiais, milicianos ou traficantes. As mães de Acari (como ficaram conhecidas as mães dos 11 desaparecidos em 26 de julho de 1990) fizeram um trabalho de limpeza moral para provar que seus filhos não eram criminosos. E mesmo que fossem, não deveriam sumir ou ser executados. Há uma ideologia de que, no Brasil, bandido pode ser morto - analisa Araújo, que entrevistou 22 famílias de desaparecidos para sua tese, entre elas, mães dos jovens de Acari e também de oito sumidos de Vigário Geral em 2005.

Às 23h30m de amanhã, chegará a um fim infrutífero um dos mais intrincados inquéritos de que se tem notícia na polícia e no Ministério Público do Rio de Janeiro. Os crimes a que responderiam os responsáveis pela Chacina de Acari prescrevem nesta segunda-feira, após 20 anos. Na sexta-feira, através de e-mail enviado ao GLOBO, o MP praticamente se despediu do caso.

- Lamentável episódio, que não deve ser esquecido, para que não se repitam outros tão cruéis - disse a promotora Cláudia das Graças Mattos de Oliveira Portocarrero, coordenadora da 3 Central de Inquéritos do Ministério Público, onde está o inquérito.

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