sábado, 31 de julho de 2010

Final de semestre letivo

A educação escolar brasileira vai de mal a pior. Esse momento de final de semestre é propício para discutirmos a tragédia que vivenciamos na área do conhecimento.
Os profissionais da educação estão cada vez mais perplexos e confusos com a inversão de valores e o excesso de deseducação travestida de modernismos.
Os culpados são todos os que se omitem diante da situação. Por um lado temos milhares de pessoas que acreditam na educação escolar como o melhor caminho para a promoção humana, trabalham para que ela seja eficiente e lutam para que ela seja transformada e transformadora. Por outro, há milhares de alunos relapsos e desmotivados, pais irresponsáveis e omissos, profissionais da educação despreparados e descompromissados, instituições educacionais dirigidas por gente que está cansada da sala de aula e busca tranquilidade e prestígio na burocracia estatal. Os primeiros sofrem por serem minoria.
Mudanças precisam ser operadas desde as concepções de educação, família, Estado e ser humano até os procedimentos mais corriqueiros da prática escolar.
As instituições estatais de educação estão infestadas de gente fazendo experiências com os filhos dos outros. Vejamos um – só um – caso de política pública em que os agentes educacionais, na ânsia de resolverem o problema, pioram a situação. O MEC, partindo do pressuposto que o problema está na formação de professores, optou por sucessivas reestruturações dos cursos superiores de licenciatura, aumentando as cargas horárias das disciplinas pedagógicas em detrimento daquelas que compõem o currículo básico das ciências específicas (História, Geografia, Matemática, Letras, etc.). Suprimiu/diminuiu, também, as cargas horárias das disciplinas chamadas auxiliares e que são fundamentais para a compreensão de qualquer ciência e da “clientela” escolar: Psicologia do Desenvolvimento da Infância e da Adolescência, Psicologia da Educação, Filosofia e História da Filosofia, Sociologia Geral, Sociologia das Comunicações, Sociologia da Educação, Antropologia (cultura e identidade), Ciência Política e, nos tempos modernos, Ciências da Informação.
A situação é esdrúxula. Imagine que o Curso de História, por exemplo, não oferece as disciplinas acima mencionadas e a História Antiga tem que ser dada em sessenta horas letivas. Isso mesmo! Sessenta horas para ensinar os conteúdos de Pré-História, das civilizações egípcia, persa, mesopotâmica, hebraica, cretense, fenícia, grega e romana, chinesa, indiana. Este é um pequeno exemplo de um grande problema que afeta todas as licenciaturas.
Resumindo: a estrutura dos cursos de licenciatura está vazia dos conteúdos teóricos necessários à sua compreensão. A sobrecarga horária de disciplinas pedagógicas nada mais é do que um remendo, inventado pelos burocratas da educação escolar, para corrigir um sistema cada vez mais vazio de conteúdos e de valores.
Ora, se a educação escolar é responsabilidade do Estado e há problemas em todas as instâncias – do ensino infantil ao superior – então se faz necessário mudar a concepção de educação na sua estrutura institucional. Por isso, as eleições de 2010 ganham relevância. Todavia, há que se discutir concepções e procedimentos.
Tal discussão não pode ser restrita às eleições. Tem que ser feita na família, nas igrejas, nas comunidades, nas associações, nas escolas, em todo lugar. Ou seja, a população tem que ter coragem de impor sua vontade.
Não é mais possível aceitar mudanças aparentes ou para pior. Se for necessário retomar práticas antigas que eram eficientes, que se faça isso com coragem e sabedoria, adequando-as à nova realidade social. Se for preciso implantar algo novo, que não sejam respeitados os argumentos dos políticos tratam da educação como se ela fosse uma mercadoria.
Basta de propostas que são remendos mal alinhavados, de estatísticas mirabolantes que nada representam e de políticas de certificações que só servem aos interesses pessoais de gente que não tem compromisso com Gente.
É hora de fazermos enfrentamentos! Ou condenados pela nossa indiferença.

(*) Paulo Augusto Mário Isaac – Professor da UFMT, mestre em Educação Pública e Doutor em Ciências Sociais

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