ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO
CULTURAL
Etnocentrismo e Relativismo Cultural
É
norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de
familiares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de
fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas
homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita). Em
vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas
sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova
Guiné consideram que roubar é moralmente correto; a maior parte das sociedades
condenam esse ato. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das
culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte
vigora, ao passo que em outras foi abolida; algumas tribos do deserto
consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer
da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.
Centenas de páginas seriam insuficientes para
documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade
de normas e práticas culturais que existem atualmente e também as que
existiram.Até há bem
pouco tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si
mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das
outras.
Os europeus que viajaram para as Américas
no século XVI acreditavam que iam encontrar gigantes, amazonas e pigmeus, a
Fonte da Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca envelheciam e homens que
viviam centenas de anos. Os índios americanos foram inicialmente olhados como
criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os
seres humanos. Para Celso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente
norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas.
Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma
nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta, na
Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não
homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar
nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude
Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças.
Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças.
Se bem que o complexo de
superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do
século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus visitantes
ingleses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a
partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões,
valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a
sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como
inferiores, bárbaros e selvagens.
O etnocentrismo é a atitude
característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores
vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de
julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios
padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de
vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a
que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores
universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua
"superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e
culturas. Adaptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos
tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da
espécie humana.
Quais os perigos da atitude
etnocêntrica? A negação da diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse
preferível ao arco-íris) e, sobretudo os crimes, massacres e extermínios que a
conjugação dessa atitude ilegítima com ambições econômicas provocou ao longo da
História.
Depois da Segunda Guerra Mundial e do extermínio de
milhões de indivíduos pertencentes a povos que pretensos representantes de
valores culturais superiores definiram como sub-humanos, a antropologia
cultural promoveu a abertura das mentalidades, a compreensão e o respeito pelas
normas (valores das outras culturas Mensagens fundamentais:
a) Em todas as culturas encontramos
valores positivos e valores negativos;
b) Se certas normas e práticas nos parecem
absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na totalidade cultural
sem a qual são incompreensíveis,
c) O conhecimento metódico e descomplexado
de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário
nalguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações
religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar determinados
valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com
a natureza, etc.
A defesa legítima da diversidade cultural conduziu,
contudo, muitos antropólogos atuais a exagerarem a diversidade das culturas e
das sociedades: não existiriam valores universais ou normas de comportamentos
válidos independentemente do tempo e do espaço. As valorações são relativas a
um determinado contexto cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa
sociedade, não existindo escala de valores universalmente aceitos, seria
avaliá-los em função dos valores que vigoram na nossa cultura.
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