Contrariando
o senso comum, que nos ensinou ao longo dos anos que a sociedade brasileira é o
resultado da mistura das raças aqui reunidas e nos ajudou a construir a
auto-imagem do Brasil como país homogêneo e indiferenciado, as políticas de
ação afirmativa têm suscitado uma grande discussão. A que tem causado a maior
polêmica, sem dúvida, é a política de cotas. Isto é, a polêmica só aparece
quando as cotas são destinadas aos afro-descendentes e indígenas. Porque as
cotas já vêm sendo adotadas em vários segmentos da sociedade.
Temos
cotas para deficientes, idosos (no transporte rodoviário) e mulheres.
Aparentemente o problema não reside na política de cotas em si mesma e sim para
quem as cotas estão sendo destinadas. Para DOMINGUES, “a discussão das cotas já
tem o mérito de revelar a cara e a voz do nosso racismo.” A inclusão da questão
das desigualdades étnico-sociais históricas da sociedade brasileira na agenda
pública nacional (e também na internacional) ganhou substância em 2001 quando
dos preparativos para Conferência Mundial Contra o Racismo (CMR) na África do
Sul, onde o debate público se intensificou. A exclusão do afro-brasileiro já
não é mais um mito, as estatísticas não permitem disfarçar que a diferenciação
existe. Portanto a democracia racial brasileira tão propalada, através de muita
luta do movimento negro, está sendo posta em cheque e o reconhecimento do
caráter pluriétnico da sociedade pelo governo. Essa é a essência da questão, a
desmistificação da democracia racial brasileira, esta não existe nem nunca
existiu e o governo no âmbito dos seus três poderes tem promovido esse
reconhecimento através de ações de discriminação positiva.
(Adaptado
de O fim do mito da democracia racial
brasileira: Sociedade miscigenada x
sociedade pluriracial)
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