A ERA DAS
REVOLUÇÕES
Capítulo
2: A Revolução Industrial (Resenha
Por
Paulo César Travaglini
Eric Hobsbawm inicia falando do próprio nome “Revolução
Industrial”, o qual reflete um impacto relativamente tardio sobre a Europa. O
fato existia na Inglaterra antes do termo. A década de 1780 foi, segundo a
maioria dos estudiosos, o ponto de “partida” para a Revolução, a qual não se
pode dizer completa, visto que ainda prossegue.
O avanço britânico não se deveu à
superioridade tecnológica e científica, mesmo porque os franceses é que estavam
à frente nesse quesito (produziam, por exemplo, melhores navios e o mais
completo tear). As condições adequadas estavam visivelmente presentes na
Grã-Bretanha: mais de um século se passara desde que o primeiro rei fora julgado
e condenado; o lucro privado e o desenvolvimento econômico eram os supremos
objetivos da política governamental; já não se falava em um “campesinato
britânico”, pois as atividades agrícolas já estavam predominantemente dirigidas
para o mercado; as manufaturas já se haviam disseminado por um interior não
feudal. Além disso, a Grã-Bretanha possuía uma indústria admiravelmente ajustada
à revolução industrial pioneira, em condições de se lançar à indústria
algodoeira e à expansão colonial.
O autor prossegue falando do
comércio colonial, que criara a indústria algodoeira e continuava a alimentá-la.
As plantações das Índias Ocidentais forneciam o grosso do algodão para a
indústria britânica e, em troca, os plantadores compravam tecidos de algodão em
apreciáveis quantidades. Entre 1750 e 1769, a exportação britânica de tecidos de
algodão aumentou mais de dez vezes. Por volta de 1840, a Europa adquiriu 200
milhões de jardas de tecidos de algodão, enquanto as áreas “subdesenvolvidas”
adquiriram 529 milhões; merecendo destaque a América Latina – já separada de
Portugal e Espanha – e as Índias Orientais.
O algodão, portanto,
fornecia possibilidades astronômicas para tentar os empresários privados a se
lançarem na aventura da revolução industrial. Com relação à maneira mais óbvia
de se expandir a indústria no século XVIII, fala-se do sistema “doméstico”, no
qual se trabalhava a matéria-prima nas casas, recebendo-a e entregando-a aos
mercadores que estavam a caminho de se tornar patrões.
Continuando, Hobsbawm diz que, em
1830, a “indústria” e a “fábrica” no sentido moderno ainda significavam quase
que exclusivamente as áreas algodoeiras do Reino Unido. Se o algodão florescia,
a economia florescia, se ele caía, também caía a economia. Só a agricultura
tinha um poder comparável, embora estivesse em visível declínio.
O progresso da indústria
algodoeira, entretanto, gerava, entre 1830 e 1840, acentuada desaceleração no
crescimento e até um declínio da renda nacional britânica nesse período, o que
gerou descontentamento social. As crises periódicas da economia, que levavam ao
desemprego, quedas na produção, bancarrotas, etc., eram bem conhecidas.
Dando prosseguimento, fala-se
da metalurgia, especialmente a do ferro, que permanecia modesta. Em 1790, a
produção britânica suplantou a da França em somente 40%. Na verdade, a produção
britânica de ferro, comparada à produção mundial, tendeu a afundar nas décadas
seguintes.
Já a mineração era forte no
período: em 1800, a Grã-Bretanha deve ter produzido cerca de 10 milhões de
toneladas de carvão, ou aproximadamente 90% da produção mundial. Essa imensa
indústria estimulou a invenção básica que iria transformar as indústrias de bens
de capital: a ferrovia. Mal tinham as ferrovias provado ser tecnicamente viáveis
e lucrativas na Inglaterra (por volta de 1825-1830) e planos para sua construção
já eram feitos na maioria dos países do mundo ocidental, embora sua execução
fosse geralmente retardada.
Se outra forma de investimento
doméstico podia ter sido encontrada – por exemplo, na construção – é uma questão
acadêmica para a qual a resposta permanece em dúvida. De fato, o capital
encontrou as ferrovias, que não podiam ter sido construídas tão rapidamente e em
tão grande escala sem essa torrente de capital, especialmente na metade da
década de 1840. Era uma conjuntura feliz, pois, de imediato, as ferrovias
resolveram virtualmente todos os problemas do crescimento econômico.
Eric Hobsbawm dá continuidade
dizendo que uma economia industrial significa um brusco declínio proporcional da
produção agrícola (isto é, rural) e um brusco aumento da população não agrícola
(isto é, crescentemente urbana), e, quase certamente, (como no período em
apreço) um rápido aumento geral da população, o que, portanto, implica, em
primeira instância, um brusco crescimento no fornecimento de alimentos, ou seja,
uma “revolução agrícola”.
Também é apontado o problema do
fornecimento de mão de obra. Com efeito, conseguir um número suficiente de
trabalhadores com as necessárias qualificações e habilidades era tarefa difícil.
Todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à
indústria: ritmo diário ininterrupto, por exemplo, diferente do trabalhador
agrícola ou do artesão independente. Instaurava-se a disciplina do operariado, a
fim de estabelecerem-se mecanismos de controle. Também era mais conveniente
empregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças.
O autor finaliza dizendo que
tanto a Grã-Bretanha quanto o mundo sabiam que a revolução industrial lançada
nestas ilhas, não só pelos comerciantes e empresários como através deles, cuja
única lei era comprar no mercado mais barato e vender sem restrição no mais
caro, estava transformando o mundo. Nada poderia detê-la. Os deuses e os reis do
passado eram impotentes diante dos homens de negócios e das máquinas a vapor do
presente.
BIBLIOGRAFIA
HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789-1848.
25. Ed. SP: Paz e Terra, 2010.
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