quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Novos movimentos sociais



Os “novos movimentos sociais” e as novas abordagens marxistas

Seguindo as tradições clássicas da sociologia marxista, Claus Offe desenvolve estudos referentes à crise da sociedade capitalista e do trabalho. Esse autor alemão, assumidamente marxista, incorpora novos elementos — como, por exemplo, aspectos socioculturais — às suas análises sobre a conjuntura sociopolítica no capitalismo avançado. Pelo fato de apresentar uma nova visão às tradicionais abordagens marxistas, Offe é considerado um autor neomarxista ou pós-marxista. Ele avança em alguns pontos deixados de lado pela Escola de Frankfurt, principalmente no que concerne à teoria crítica de Habermas (GOHN, 2004).
Elegendo a Alemanha — seu país de origem — como local privilegiado para seus trabalhos, Claus Offe desenvolveu estudos que priorizavam o debate sobre a decadência do Welfare State e o desen- volvimento da crise capitalista, além das incertezas dos partidos políticos ocidentais e autoritários. Refletiu também sobre a transição que assolava a esquerda européia, assim como sobre os problemas estruturais e as perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho. Em cada uma dessas múltiplas área s de análise, tentava incorporar fatores dialéticos, materiais e simból icos. A observação de Offe parece bastante providencial:

Um novo subjetivismo sociológico, evidenciado em
uma série de abordagens interpretativas que represen-
tam mais que um mero modismo, pesquisando o co-
tidiano, analisando a vida e o espaço vital, rompe evi-
dentemente com a concepção de que as experiências
feitas na esfera do trabalho e nas condições aí predo-
minantes possuiriam um poder de alguma forma privi-
legiado na determinação da consciência e da ação so-
ciais (OFFE, 1989, p. 17).

Caracterizando a transição capitalista como desorganizada e conflituosa, Offe (1989) demonstra, ancorado em Habermas, que a situação do trabalhador nesse contexto é mais variável e dependente das políticas estatais e de trabalho no campo social, e menos das arti- manhas empresariais e da automatização e racionalização da produção que sacrificam aquele que vive do trabalho.
Parte de sua abordagem sobre as esferas do trabalho mostra que ele normalmente é constituído por forças externas ao próprio trabalhador, o que pode gerar dúvidas quanto à eficiência das análises macrosociológicas clássicas referentes às estruturas de formação das
classes sociais (OFFE, 1989). O autor ainda argumenta que esse tipo de pesquisa freqüentemente gera limitação dos modelos de sociedade “centrados no trabalho”, que são sublinhadas genericamente nas análises que evidenciam apenas o aspecto socioeconômico. Normal- mente, comenta Offe (1989), as variáveis que incidem sobre esse mo- delo de estudo são inapropriadas para uma assimilação completa das sociedades industriais do Ocidente.
Existem algumas formas de conflito e ações coletivas nas sociedades industriais que ultrapassam os limites estreitos das abordagens tradicionais que destacam apenas os aspectos econômicos e estruturais como fim último. O autor alerta que existem situações e
formas de conflitos sociais e políticos e que as ações coletivas ultrapassam as percepções estabelecidas por algumas teorias sobre o trabalho e o capital. Offe (1989) deixa claro que essas formas peculiares de conflito ocorrem normalmente quando existe uma mescla de frentes de conflito referenciados pelo trabalho com conflitos não referenciados pelo trabalho.
Observando os cenários atuais de publicação e pesquisa nas ciências sociais, Offe (1989) ob serva que parte considerável dos trabalhos centrados nos debates sobre os modelos de ação coletiva no capitalismo industrial e sobre a atividade remunerada nesse contexto
assenta-se em bases intelectuais conservadoras.
Segundo o autor alemão, cientistas sociais “filiados” ao materialismo histórico ou à teoria crítica mostram, de modo incisivo, que os trabalhos clássicos da Escola de Frankfurt abandonaram premeditadamente as análises centradas nas estruturas, nos conflitos e nas perspectivas de desenvolvimento do trabalho social, para dedicarem-se a um “espaço vital” a ser protegidos de usurpações econômicas e políticas (OFFE, 1989).
Todavia, continua Offe (1989), pesar das abordagens sinalizarem progressos efetivos, é necessário, por outro lado, considerar os problemas resultantes das conjunturas políticas e econômicas como objetos da pesquisa sociológica. Ainda é necessária, para o autor, uma justificativa intelectual sobre o deslocamento do ângulo de interesse da pesquisa sobre as ações coletivas.
Em concomitância com esses diferentes modelos teóricos de análises, aparecem os denominados “novos movimentos sociais”, que utilizam diferentes estratégias de ação coletiva. Parte considerável dos militantes é constituída por pessoas com nível cultural elevado, bem informadas e que não possuem histórico de militância em outros movimentos políticos, mas que lutam por objetivos comuns. Assim sendo, as novas demandas sociais  e ações coletivas não se restringem apenas aos ativistas; elas se fragmentaram pela sociedade como um todo.
Não obstante, Offe (1989) revela que o comportamento dos novos ativistas sociais pode ser classificado como extra-institucionais, uma vez que não atuam em nome de uma doutrina política definida como revolucionária. O princípio motivador da criação dos novos movimentos sociais surgiu a partir de problemas ideológicos encontrados na vida cotidiana e da construção de uma identidade coletiva desses novos atores sociais, que buscavam a complementação dos seus direitos sociais e democráticos (GOHN, 2004). Por isso mesmo, completa Offe (1989), reivindicavam junto às elites políticas dirigentes questões que são particulares e de interesse restrito àq uele determinado tipo de movimento.
Conseguindo perceber diferenças ideológicas e estruturais entre os tipos de ação coletiva, o autor dividiu os movimentos em dois paradigmas distintos, que expressariam a concepção política de cada um deles. A divisão obedeceria ao seguinte critério: o tradicional, que se iniciou após a Segunda Grande Guerra, e o recente, surgido a partir da década de 1970 (GOHN, 2004).
O que caracterizava o primeiro momento, representado pelo Welfare State, eram as políticas de promoção da seguridade social, cabendo aos atores sociais envolvidos no processo atuarem como grupos de interesse econômico. Essa atuação poderia ser pensada de duas maneiras: internamente, nas organizações, associações representativas ou, externamente, em intermediações corporativistas de interesses grupais e na competição eleitoral entre partidos políticos (GOHN, 2004).
Por outra parte, o novo modelo  de ação coletiva, apresentado nos anos de 1970, é constituído de uma miríade de instituições que buscavam conquistas particulares, voltadas para suas áreas de interesse. O conjunto das diferentes formas de ação coletiva recebeu o nome genérico de novos movimentos sociais. Entre eles, pode-se lembrar de alguns, tais como: movimento de estudantes, movimento de mulheres, de homossexuais, pela liberação sexual, movimento verde, de minorias, pela paz, entre tantos (GOHN, 2004). Como dito anteriormente, os novos movimentos sociais se constituíram em espaços políticos não-institucionalizados, que transbordam o Estado de Bem-Estar Social, reinventando uma nova forma de atuação.

Em síntese, o argumento central de Offe mostra que os novos movimentos sociais e seus empreendimentos coletivos surgem como respostas estruturadas dentro de uma recente ordem. Seus desejos incontidos de expressão procuram reconhecimento com interlocutores responsáveis e credenciados a atuarem na esfera pública e privada em nome daqueles que representam. Compartilhando a mesma idéia com Richard Sennett (2006), Offe mostra que os novos movimentos sociais funcionam como críticos audazes do processo de modernização forçada em pauta na cultura do novo capitalismo.

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